Portas num private equity

Paulo Portas vai integrar a equipa de um fundo de private equity, que reunirá Nuno Fernandes Thomaz (saída confirmada da CGD), o seu antigo chefe de gabinete, Manuel Brandão e poderá ainda contar com o apoio de Pedro Reis, o homem forte do capital de risco no BCP, garantiram ao CONFIDENCIAL.

Reestruturação “a la Impresa” na Cofina

Depois de terem falhado a venda à Altice, o núcleo accionista da Cofina, liderado por Paulo Fernandes, está a preparar uma profunda reestruturação do grupo, que inverteu o ciclo de crescimento e de resultados positivos com dividendos generosos.

A Altice, que chegou a ter preparada a OPA sobre a Cofina, foi obrigada pela rival Nos a concentrar os seus esforços de investimento nos media para a compra de direitos de futebol, deixando cair o seu interesse pelo grupo do “Correio da Manhã” e pela TVI.

Na Cofina, soube o CONFIDENCIAL, a reestruturação será dura “a la Impresa”, com a redução do número de administradores e a saída de alguns directores de primeira linha. A CM TV fechou entretanto contrato de distribuição com a Nos, mais do que duplicando o seu potencial de negócio

Apollo admite vender Tranqulidade

A diplomacia norte-americana ficou furiosa com a venda do Banif aos espanhóis do Santander, sobretudo depois de se ter confirmado que a proposta do Fundo Apollo era muito superior, como o CONFIDENCIAL anunciou em 15 de Dezembro. O veto do Banco de Portugal a que a instituição passasse para o controlo directo de um fundo de private equity, por imposição do Banco Central Europeu, foi um argumento que não vingou, sobretudo depois da transferência de algumas empresas de interesse estratégico nacional, como a EDP ou a REN, para mãos de grupos de investimento chineses.

A Apollo, que adquiriu o grupo segurador Tranquilidade (ex-BES/Novo Banco), precisa de uma rede para garantir as sinergias e as vantagens de um negócio alicerçado na distribuição de produtos de seguros aos balcões bancários. E depois de ter sido vetado na primeira tentativa de venda do Novo Banco e de ter sido preterido, por motivos ainda não revelados, na corrida ao Banif, a hipótese de venda da Tranquilidade volta a estar sobre a mesa.

Proença lidera OPA sobre a TVI?

O advogado Daniel Proença de Carvalho estará a montar um consórcio de investidores para lançar uma oferta de compra da TVI, disseram ao CONFIDENCIAL. O grupo espanhol Prisa, que controla a Media Capital, dona da TVI, não tem escondido o seu interesse em vendar a estação de televisão portuguesa, numa operação bem vista pelos bancos credores. O encaixe da venda seria utilizado para reduzir o passivo bancário.

MBOs salvam My Brand e Heidrick

A My Brand, a empresa de marcas e branding que José Miguel Brás Frade e Aníbal Pires venderam à Ongoing, está a preparar um MBO, liderado por Filipe Xara Brasil. Uma solução semelhante à encontrada para a Heidrick & Struggles, na área do head hunting, onde é Pedro Rocha e Silva que lidera a tomada de capital pelos quadros.

My Brand e Heidrick & Struggles são duas das empresas da Ongoing que os credores entenderam recuperáveis, permitindo o destaque e o MBO. O destaque era, aliás, uma das condições que, a par com a decisão sobre o futuro do “Económico”, estava a adiar o pedido de insolvência da Ongoing, por parte do Novo Banco.

No “Económico” a situação é cada vez mais problemática, depois do empresário Domingos Vunge, com quem o negócio esteve praticamente fechado, ter falhado a entrega das garantias exigidas pela Haitong, que tem o mandato de venda. A hipótese de um MBO está afastada neste caso, dada a ausência de um modelo de negócio sustentável que garanta a viabilidade do projecto, sem entrada de fundos frescos.

O Novo Banco, principal credor da Ongoing, continua a insistir com a Global Media, que detém o “Diário de Notícias”, “Jornal de Notícias” e TSF, para acomodar o “Económico”, mas a própria situação da Global Media não está neste momento clara.

Corporación Andina de Fomento entra na SOFID

A CAF (Corporación Andina de Fomento) é o novo accionista da SOFID (Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento) e torna-se assim a primeira instituição financeira estrangeira a participar no capital social do banco de desenvolvimento português, maioritariamente detido pelo Estado, mas onde estão também a Caixa Geral de Depósitos, o Millennium bcp, o Novo Banco, o BPI e a ELO.

Esta operação – que decorreu no âmbito do primeiro aumento de capital da história da SOFID (fundada em 2007) – envolve a entrada da multilateral financeira da América Latina no banco de desenvolvimento que apoia a internacionalização das empresas portuguesas em países emergentes e em vias de desenvolvimento, o que permitirá à SOFID reforçar estrategicamente os seus instrumentos de apoio a projectos de empresas nacionais naquela região do globo.

Neste momento a SOFID já apoia projectos de investimento no México e no Brasil, mas tem no seu pipeline novos projectos para outros países da América Latina, nomeadamente Colômbia e Peru.

A grande crise financeira global avança agora para a América Latina 

crash Bolsas

Já faz quase nove anos que começou nos EUA uma crise financeira como consequência do colapso do mercado de hipotecas de risco elevado ou subprime. Apesar disso, as consequências daquela grande crise continuam a afectar actualmente a economia mundial, e deverão continuar nos próximos meses. De facto, o mundo vive hoje uma grande tempestade económica que se vem desdobrando em três fases: a primeira delas corresponde à crise financeira já mencionada dos EUA; a segunda ocorreu na Europa, com graves problemas para a dívida soberana de países como Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal. A terceira onda está em gestação actualmente e avançará com força sobre os países emergentes, entre eles os da América Latina.

“Seis anos depois de a economia mundial sair da recessão mais ampla e profunda desde o pós-guerra, o retorno a um crescimento robusto e sincronizado continua incerto”, informou o Fundo Monetário Internacional (FMI) no seu último relatório Perspectivas da Economia Mundial, publicado em Outubro do ano passado. O órgão não hesita em destacar que, actualmente, o principal foco de vulnerabilidade do mundo encontra-se nos países emergentes, na desaceleração da economia chinesa e na pressão cambial. Some-se a isso a provável e iminente mudança na política monetária norte-americana.

 

Uma nova forma de explicar a realidade

“Um coro crescente de vozes baptizou de ‘terceira onda’ (ou ‘trilogia’) a hipótese de que o fim de ciclo nas economias emergentes não é mais um apenas nas suas histórias acidentadas. Trata-se, antes, da terceira encarnação da crise financeira internacional que nos vem a espreitar desde 2007”, explica Javier Carrillo, professor de Economia da Universidade de Alcalá, de Madrid, num blog da Escola de Negócios IE. A teoria de uma crise em três ondas ou fases foi também defendida por organismos oficiais. O economista-chefe do Banco de Inglaterra, Andrew Haldane, observou, em discurso feito a 18 de Setembro, na Irlanda do Norte, que a sucessão de eventos que se observa nos países emergentes é a terceira etapa de uma crise global constituída por três fases.

Haldane disse que essas três fases partilham de uma origem comum: o excesso de liquidez global que se instalou nos mercados financeiros, inflando e desinflando as economias. Apesar disso, defendeu que o terceiro estágio ainda está em situação embrionária.

Nicolas Cachanosky, professor da Universidade Estadual Metropolitan, de Denver, concorda que essa é uma forma de descrever os efeitos da crise que começou em 2008. “A crise do subprime não foi uma crise nacional, mas sim uma crise com características internacionais. Não me refiro à bolha imobiliária, e sim às políticas monetárias que levaram a esse desfecho”, disse. De forma resumida, explica, “depois de 2001 (crise do mercado de tecnologia e atentados de 11 de Setembro), a Reserva Federal decidiu iniciar uma política expansionista que foi acompanhada por outros bancos centrais. O desequilíbrio financeiro, portanto, é um fenómeno internacional. Nos EUA, manifestou-se principalmente no mercado imobiliário. Na Europa, o choque financeiro afectou com maior evidência a dívida pública de países como Itália, Espanha e Grécia”. Cachanosky observa que os mercados emergentes foram golpeados por dois problemas. Em primeiro lugar, pela desaceleração da economia, na medida em que isso afecta negativamente o preço das commodities, afecta também os países emergentes produtores de matérias-primas. Em segundo lugar, a elevação das taxas de juros pela Fed e por outros bancos influi igualmente de forma negativa nos fluxos de capitais dos países emergentes. “Os bancos centrais seguem as determinações estipuladas com base na situação económica doméstica, porém a política monetária dos principais bancos centrais do mundo tem efeitos internacionais. Por exemplo: as duas maiores crises latino-americanas dos últimos 60 anos ocorreram depois dos dois períodos de maior distanciamento da Fed em relação à Regra de Taylor”, diz Cachanosky. A Regra de Taylor é uma norma de política monetária que determina quanto deve variar a taxa de juro fixada pelas autoridades, em função das mudanças ocorridas na taxa de inflação e na produção de uma economia.

Luis García Echeverría, professor de Economia Internacional da Pontifícia Universidade Javeriana de Bogotá, na Colômbia, citado pela newsletter da Whorton, não crê na teoria de uma crise em três fases, “e sim em problemas resultantes do ordenamento económico nacional e, portanto, do ordenamento económico mundial”. Echeverría refere-se, de modo especial, a políticas económicas de gastos não sustentáveis e a regulações financeiras nacionais frágeis (sejam elas decorrentes de leis ou de órgãos de supervisão). Para García Echeverría, esses aspectos “muito possivelmente continuarão a gerar crises no futuro, mas não ao estilo de uma trilogia, e sim em consequência de problemas analiticamente simples de identificar, mas politicamente difíceis de resolver”.

Peter Oppenheimer, estratega-chefe de renda variável global do Goldman Sachs, também defendeu essa teoria num artigo publicado pelo “Financial Times”, em 11 de Novembro. No artigo, Oppenheimer assinalava que as fragilidades apresentadas pelos países emergentes e pela China são consequência da retoma do equilíbrio do seu crescimento económico, depois de uma forte entrada de liquidez oriunda das economias desenvolvidas, muito mais do que um problema de deterioração estrutural. Todavia, Cachanosky crê que ambos os factores tenham actuado conjuntamente. “Não acredito que uma coisa exclua a outra. Em vários países emergentes, pode haver problemas estruturais no sentido de que políticas monetárias e fiscais incentivaram investimentos que resultaram improdutivos. Por outro lado, mudanças no contexto internacional podem levar a uma mudança nos fluxos de capitais e/ou prazos de investimentos, produzindo efeitos que, à primeira vista, são similares. Esses dois efeitos, porém, podem também ocorrer ao mesmo tempo.” Cachanosky observa que assim como uma política monetária doméstica pode levar ao uso ineficiente de recursos, o mesmo pode acontecer em economias emergentes quando os principais bancos centrais do mundo aumentam a liquidez nos mercados internacionais que têm acesso àquelas economias. “Tenho a impressão de que é este último caso que resume as dificuldades das economias emergentes. É bom lembrar que os bancos centrais das principais economias introduziram fortes políticas expansionistas depois da crise de 2008. A Fed, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra são apenas três dos bancos que aportaram liquidez ao sistema financeiro”, diz.

 

Consequências e reacções

García Echeverría explica que, na actual conjuntura, as finanças públicas dos países emergentes em geral, e latino-americanos em particular, serão afectadas. Com isso, surgirão entre os governos ideias de reformas tributárias com aumentos de impostos e/ou redução de gastos para manter o gasto público nos níveis conjunturais alcançados durante os últimos dez anos, mas que são insustentáveis a longo prazo. Para García Echeverría, os investimentos também sofrerão interrupção, já que dependem essencialmente de bens de capitais importados, mais caros devido à sua desvalorização inevitável e a expectativas mais moderadas. Qual a solução? Para García Echeverría, os mercados emergentes só têm uma alternativa: adaptar-se a um nível de gasto agregado menor. “Não há muitas opções, já que a diminuição das receitas com base em termos de troca não é algo que se possa substituir. Inevitavelmente, a solução é cortar gastos”, diz. Ele propõe, do ponto de vista fiscal, que se diminua o gasto sem aumentar impostos até um nível sustentável a longo prazo. Ao mesmo tempo, García Echeverría crê que a política monetária deve manter a ortodoxia para atingir as metas de inflação (sem interferir no mercado cambial), aplicando-se correctivos para acomodar o crédito a níveis compatíveis com os recursos disponíveis, internos e externos. “O efeito da aplicação dessas medidas é o que se deve aceitar até ao próximo boom económico. O importante é agir com base na perspectiva de longo prazo, e não com a miopia de um resultado de curto prazo, talvez por razões pré-eleitorais, ou por interesses frequentes dos políticos à custa da estabilidade futura”, diz.

Para Cachanosky, a América Latina deve resolver vários problemas fundamentais. Em primeiro lugar, a deterioração institucional de várias das suas principais economias, como a da Argentina, Brasil e Venezuela. “A longo prazo, o nível de desenvolvimento das nações depende de um marco institucional adequado”, diz. Os outros grandes problemas a serem resolvidos são: desequilíbrios fiscais e pouca liberdade económica, coisas que tolhem a competitividade. “Um tesouro equilibrado significa que o governo não precisa recorrer aos mercados financeiros para financiar o défice, evitando problemas de monetização do défice (inflação), ou de prémio nas taxas de juro por risco de calote (dívida pública crescente). Um país pode ter uma economia aberta e inter-relacionada com o mundo, mas essa economia será dependente da situação financeira internacional, na medida em que insistir em ter um tesouro com défice estrutural”, observa Cachanosky.

Ao serem questionados se a América Latina pode sair reforçada dessa terceira onda da crise financeira global, os especialistas não têm uma resposta clara. Garantem que muita coisa dependerá da situação concreta de cada país e das políticas económicas por eles implementadas. “Os que mantiverem os níveis de gastos, mediante endividamento externo, podem, sem excepção, estar preparando a sua próxima crise e, quem sabe, também a dos sistemas financeiros mal regulados que lhes concederão empréstimos”, adverte García Echeverría.

Para Cachanosky, é difícil prever quais os países que podem sair mais fortes das dificuldades actuais. “Tenho a impressão que, além das dificuldades que os mercados internacionais podem impor às economias latino-americanas, os problemas são principalmente domésticos”, disse. Ele observa que o Chile, por exemplo, se encontra numa situação melhor do que a dos demais países mais fechados e com regimes de corte mais populista. “O panorama económico dependerá mais das questões políticas de cada país e de reformas institucionais do que do contexto internacional”, disse. A Argentina e a Venezuela são dois exemplos disso. “As duas economias desfrutaram dos altos preços das commodities que exportam. Os dois países acham-se em sérias dificuldades económicas, sociais e institucionais. A elevação dos preços das matérias-primas não significa que as economias latino-americanas estarão em melhor situação. É preciso não confundir uma ‘festa de consumo’ com crescimento económico genuíno. Prever o futuro institucional e político é muito difícil, uma vez que depende da decisão de indivíduos em postos-chave”, concluiu.

Queda nas exportações e a instabilidade desacelerarão o crescimento?

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Há alguns anos, as exportações de commodities latino-americanas prosperavam, enquanto os analistas saudavam o advento das maiores economias da região – entre elas a do Brasil, Chile, Colômbia e México ― ao círculo estreito das principais nações emergentes.

Isso acabou. A América Latina, em geral, sofreu uma queda de 14% nas exportações no ano passado, enquanto os países da América do Sul, em especial, sofriam uma queda ainda mais acentuada de 21% nas suas exportações.

Em 2015 registou-se o terceiro ano consecutivo de quebra, que se acentuou, espalhando-se praticamente em todos os países da região, conforme dados do Banco Inter-Americano de Desenvolvimento (BID).

Isto fez com que a Latin Focus Consensus Forecasts de Barcelona, em Espanha, reduzisse o crescimento do PIB da região para apenas 0,6 em 2016. “Não há sinais de mudanças nas tendências dos preços dos mercados de commodities. Além disso, espera-se que a desaceleração da actividade económica prossiga na China e na América Latina”, de acordo com o BID. As duas únicas estrelas da região são o México e a América Central, onde a forte procura dos EUA “pode instilar dinamismo às exportações”, acrescentou o BID. “A contracção do comércio, que é a pior desde o colapso de 2009, é um sinal de alerta para a necessidade de se introduzirem políticas que permitam a diversificação das exportações”, observa Paolo Giordano, economista-chefe de Integração e do Sector de Comércio do BID e coordenador do relatório.

É óbvio que, no caso de países que dependem tanto de commodities, a queda dos preços é preocupante, diz Mauro Guillén, professor de Administração da Wharton. “No México e na Colômbia a situação é muito melhor, porque esses países têm uma estrutura de exportação mais diversificada por produto e dependem mais dos EUA ou da Europa para as suas exportações […]. Os EUA, no contexto global, não se estão a sair muito mal economicamente.”

 

Dupla maldição

Felipe Monteiro, investigador principal do Instituto Mack de Gestão da Inovação da Wharton, explica que o crescimento baseado em commodities que a América Latina experimentou é uma dupla maldição para a região. “Não é um comércio equilibrado e é também muito volátil, uma vez que depende excessivamente dos preços das commodities [que são voláteis]. Os países beneficiam nos anos de crescimento, mas há também momentos terríveis de depressão. Quando as relações comerciais não dependem tanto das commodities, os preços variam de um modo mais sustentável e regular. Os preços das commodities variam com muita rapidez – de um modo ou do outro.”

Os países exportadores de petróleo foram os mais afectados pela queda acentuada dos preços. De acordo com o BID, a Venezuela (menos 49%) e a Colômbia (menos 35%) tiveram as maiores taxas de contracção no total das suas exportações em 2015, em volumes medidos em dólares, seguidos da Bolívia, Equador e Trinidad e Tobago. El Salvador e Guatemala foram os dois únicos países em que as exportações subiram, devido a um forte aumento nas suas remessas de açúcar para a China. As exportações totais da América Latina para a China tiveram uma queda de 14%, enquanto as expectativas de uma recuperação nas exportações para os EUA foram neutralizadas, sobretudo pela queda no valor do petróleo, que resultou na redução de vendas para os EUA de 7%.

Walter Kemmsies, economista sénior da Moffatt & Nichol, uma consultora de desenvolvimento de infra-estrutura, distingue entre tendências de demanda para commodities industriais e commodities agrícolas. De um lado, as exportações de commodities industriais incluem commodities de energia, metais e agregados. As exportações agrícolas incluem tudo, desde grãos, açúcares e sementes até proteínas.

Em relação às exportações de commodities industriais, a procura pelo minério de ferro latino-americano pela China vem crescendo ultimamente mais devagar do que as companhias de mineração em países como o Brasil, Chile e Peru previam há alguns anos. Diz Kemmsies: “Em geral, cerca de US$ 4,5 triliões em dívida foram emitidos durante os últimos três ou quatro anos para a construção de novas minas e conexões entre minas e portos, caminhos-de-ferro – um volume considerável de investimento na produção de coisas que dependem do minério de ferro. Há quatro ou cinco anos, não havia no Brasil capacidade suficiente de exportação portuária disponível, capaz de lidar com tonelagens quatro ou cinco vezes maiores do que o volume total de tonelagem gerenciada no mundo antes daquela época. Foi então que as empresas de mineração e de energia do bilionário brasileiro Eike Batista entraram em colapso. Ele acabou literalmente como ‘um canário na mina de carvão.’” [A expressão brasileira deriva da prática antiga e comum de levar canários para minas de carvão. Caso estivesse presente um gás venenoso, o canário morreria antes dos mineiros, alertando sobre um perigo iminente.]

Pesos pesados da mineração, como a Rio Tinto e a BHP, “tinham investido exageradamente em capacidade – e o crescimento do consumo não foi suficiente para absorver tudo isso”, acrescentou Kemmsies. “Há um desequilíbrio na oferta e na procura de minérios de ferro. O mesmo acontece com o cobre e vários metais. Assim, com o dólar fortalecendo-se cada vez mais, e a procura de metais industriais pela China em declínio constante, os preços entraram em colapso.”

Por outro lado, diz ele, “o comércio agrícola segue em ritmo decente. As regiões da América Latina que dependem das exportações agrícolas estão a sair-se bem. Não é o caso, porém, de outras que dependem das exportações de matérias-primas industriais e de energia.”

Kemmsies acrescenta: “Os preços dos produtos agrícolas também baixaram, mas não na mesma medida que os preços industriais. Antes da entrada explosiva da China em cena, o preço médio da soja era de US$ 2 alqueires (bushel); mas depois subiu e chegou a US$ 17 o alqueire em 2012. Hoje, ele está entre US$ 8,75 e US$ 9,50. Contudo, se compararmos os preços da soja com os níveis de há dez ou 15 anos, veremos que actualmente eles são três vezes maiores. Hoje o petróleo retomou o patamar onde estava em 2004-2005.”

 

Brasil: uma infinidade de incertezas

No caso do Brasil, de longe a nação mais populosa e a maior economia da região, o novo ano traz incertezas económicas e políticas. Por um lado, a economia brasileira contraiu 4,5% no terceiro trimestre de 2015 em relação há um ano antes. De acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional, em 2015 o produto interno bruto brasileiro caiu 3% e deverá cair 1% em 2016. “O Brasil começa o ano com inúmeras incertezas”, diz Monteiro. “Há muitas interrogações.”

No final de 2015, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, demitiu-se, e foi substituído por Nelson Barbosa. Levy, que ficou menos de um ano no governo de Dilma, favoreceu a austeridade fiscal e outras reformas com o propósito de tornar a economia brasileira mais competitiva. O mandato de Levy foi marcado por conflitos constantes dentro da equipa económica do governo. Em 2015, a economia brasileira mergulhou em recessão. Ao mesmo tempo, a inflação disparou e ultrapassou 10%. O país foi desclassificado para o rating de crédito especulativo por duas grandes agências de risco, a Fitch e a Standard & Poor’s. Levy queria um superávit orçamental maior, ao passo que Barbosa favorece uma margem menor de economia para 2016.

A presidente Dilma Rousseff apoiou a posição de Barbosa e pediu ao Congresso que reduzisse o superávit esperado de 0,7% do PIB para 0,5%. Ao mesmo tempo, a presidente enfrenta acusações de corrupção em grande escala, na medida em que um volume maior de informações vem à tona sobre as conexões entre a estatal do petróleo Petrobrás e políticos na época em que ela presidia a directoria da empresa. Em Dezembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a presidente não pode ser alvo de impeachment com base nos procedimentos actuais que pretendem destituí-la do cargo. Os juízes decidiram que é preciso uma nova votação para que se instale o processo de impeachment, cabendo ao Senado a decisão final este ano.

O Brasil tem muitos problemas, diz Guillén, “mas o problema imediato do país é a inflação que pode sair do controlo. Com a economia em profunda recessão, não há uma saída óbvia. Os preços das commodities estagnaram, ou, em alguns casos, continuam a cair”. No Brasil, como na maior parte dessas outras economias, diz ele, “o problema é que não foram feitos os investimentos que deveriam ter sido feitos nos anos de prosperidade, quando as coisas iam bem, quando havia muito dinheiro decorrente da venda de commodities. Essa é a tragédia de tudo isso”.

Monteiro acrescenta: “Quando olhamos para 2016, fica evidente que uma porção dessas coisas que, conforme se esperava, deveriam estar resolvidas agora, continuam a pressionar. Não se sabe quando o país sairá dessa paralisia – embora o processo de impeachment já tenha sido deflagrado formalmente. Não há indicação clara do possível desfecho dessa situação, ou de quanto tempo isso levará.”

Apesar de tais incertezas, Monteiro adverte que não se devem comparar as dificuldades da economia brasileira com as de seu país vizinho, a Argentina. Embora ambos os países tenham sofrido com a queda dos preços das commodities globais, Monteiro observa que a “indústria e o sector de negócios do Brasil são muito mais diversificados e em escala diversa”. Ele acrescenta que “embora a Argentina tenha passado por tantos anos de deterioração, a boa nova é que o novo governo parece ser mais transparente. É promissor o facto de que o novo presidente eleito, Mauricio Macri, seja uma pessoa favorável aos negócios. Essa é nossa esperança. Contudo, a economia da Argentina deteriorou-se muito mais do que a brasileira. Comparando a Argentina com o Brasil – é preciso reconhecer que a economia brasileira se deteriorou, mas não no mesmo nível que a do país vizinho. O Brasil não tem sofrido tanto quanto a Argentina, que hoje não tem acesso aos mercados financeiros e enfrenta restrições elevadas de importação”.

Monteiro prossegue: “Creio que há um lado positivo nisso tudo para cada um desses países. De um lado, a Argentina tem […] novas esperanças e um novo governo, mas a situação do país está bastante deteriorada. No Brasil, essa esperança ainda não existe. As pessoas não sabem exactamente o que vai acontecer.” Contudo, no que se refere aos índices, a economia brasileira é muito mais forte, acrescentou.

No caso do Brasil, 2016 também oferece uma oportunidade ao mesmo tempo positiva e desafiadora: o Rio de Janeiro sediará os Jogos Olímpicos de Verão, num momento em que a situação económica do país e a estabilidade política local estão ambas em situação de risco. Até mesmo a abrangência do impacto económico das Olimpíadas de 2016 foi posto em dúvida ultimamente, dada a situação de crise económica do país.

Guillén concorda com esse ponto de vista e diz que o clima no Brasil actualmente é de “muito pessimismo, porque a inflação está fora de controlo e a presidente tem muito pouca margem de manobra para convencer as pessoas a envolverem-se com as reformas, uma vez que o seu índice de aprovação é extremamente baixo, menos de 10%. “A terrível situação económica por que passa o país deve-se, em grande parte, à valorização do dólar e aos problemas da China”, diz. “Outro factor é a situação política interna do país.”

Kemmsies observa que os fundos utilizados para a construção das instalações olímpicas teriam melhor destino se fossem usados na construção de estradas, portos, etc. De acordo com Monteiro, os jogos “terão impacto apenas limitado” sobre o atraso económico. “Haverá efeitos positivos, mas principalmente para o Rio de Janeiro. Diferentemente da Copa do Mundo de 2012, os Jogos Olímpicos serão disputados numa única cidade, portanto haverá maior concentração. Há uma dupla esperança: de um lado, no que se refere à infra-estrutura que permanecerá depois dos jogos, o Rio será beneficiado. E o Brasil, que vive hoje no meio de notícias tão desesperadas, terá a oportunidade de se recompor. Todavia, parece demasiadamente optimista a ideia de que os Jogos Olímpicos, de algum modo, compensarão os efeitos negativos” da crise actual.

Até mesmo o Chile, outra estrela em ascensão entre as nações emergentes durante os anos de prosperidade, não desfruta hoje de uma situação confortável, observa Guillén. “O Chile costumava ser um país com desempenho relativamente bom; entretanto, também isso foi, de certa forma, uma ilusão. O país confiou nos preços elevados das commodities, por isso não está em situação muito melhor do que os demais países”, disse Guillén, apesar de uma produção mais diversificada: vinhos e frutas de alta qualidade, que exporta para os EUA e outros mercados estrangeiros.

Novo Banco liquida Ongoing

O Novo Banco vai finalmente avançar sobre a Ongoing, devendo requerer a insolvência do grupo de Nuno Vasconcelos nas próximas semanas. De fora da massa falida fica a empresa de head hunting Heidrick & Struggles, que passará para o controlo dos actuais quadros. O MBO, liderado por Pedro Rocha e Silva, é apoiado pelo Novo Banco.