Acordo entre privados e Estado está fechado

O acordo que devolve 50% do capital da TAP ao Estado está fechado, garantindo aos privados o controlo absoluto da gestão e algumas contrapartidas listadas num acordo confidencial que não constará do contrato de reversão.

Estado e o consórcio privado que junta Humberto Pedrosa e David Newman repartem 50% do capital, cada, ficando o mesmo número de membros no Conselho de Administração. O Estado escolherá o presidente, que terá direito de veto e voto de qualidade, em caso de empate nas votações. Este Conselho terá no entanto um carácter de Conselho Geral, para supervisionar a gestão e aprovar as grandes decisões estratégicas, ficando a administração operacional a cargo de uma Comissão Executiva, controlada pelos accionistas privados,

Uma das condições acordadas tem a ver com as facilidades que serão dadas à TAP em algumas rotas, onde a concorrência das companhias low cost é maior. Com a passagem dos low cost para o Montijo e a manutenção da operação TAP na Portela, a companhia ganhará uma enorme vantagem.

O negócio de venda da sede e dos terrenos anexos também está incorporado.

 

Parceiro da Sonae deu prémio de 5 milhões a ex-presidente Chissano

O Satya Capital, um fundo privado do magnata africano sudano-libanês Mo Ibrahim é o parceiro da Sonae, na compra da cadeia de supermercados Extra ao grupo ADC de Moçambique

A operação será efectuada através da S2 Africa, um veículo de aquisições sedeado em Londres para negócios na área da distribuição, constituído em 2014 pelo Satya Capital.

A rede agora comprada pertenceu ao grupo retalhista sul-africano Pick n Pay, que abandonou Moçambique em 2013 depois de não ter conseguido tornar o negócio lucrativo. A Pick n Pay acabou por vender a rede de lojas à ADC, uma parceria constituída nesse ano entre o grupo retalhista moçambicano Africom Limitada e a Delta Trading & Companhia, sendo que no final de 2015 dispunha de 25 supermercados, incluindo 15 na capital, Maputo.

Mo Ibrahim, que tranalhou na British Telecom, ganhou dinheiro nas telecomunicações e fez uma mega fortuna em 2005, quando vendeu por 3400 milhões de dólares a Celtel, uma operadora móvel com mais de 24 milhões de assinantes e presente em 14 países africanos. Parte do dinheiro foi aplicado na criação da Fundação Mo Ibrahim para promover um melhor governance em África e do Índice Mo Ibrahim, que avalia a qualidade de anual governança para em país do continente africano. É membro da Comissão Consultiva Regional para a África na London Business School.

Em 2007, lançou o Prémio Mo Ibrahim para a Liderança de Excelência em África, com um prémio inicial de 5 milhões de dólares e um pagamento anual para a vida, no valor de 200 mil dólares, atribuído aos Chefes de Estado que excecionalmente promovam maior segurança, direitos à saúde, à educação, ao desenvolvimento económico e político nos seus países, e cedam o poder de forma democrática aos seus sucessores.

Em 2007, na primeira edição, foi o ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano, que governou o país durante 19 anos, que foi distinguido com o prémio.

 

 

 

O caso da compra de helicópteros para o combate a

Tensão Luanda-Lisboa condiciona futuro do BCP, BPI e NOS

Desde o início de Dezembro regressaram a Portugal mais de 10 mil expatriados que estavam a trabalhar em Luanda, cumprindo o plano oficial de esfriamento das relações económicas e da cooperação entre Luanda e Lisboa. Neste momento as estimativas apontam para um total de 200 mil portugueses a trabalhar em Angola e prevê-se que pelo menos 25% sejam repatriados já este ano. Em Lisboa, é cada vez mais difícil conseguir um visto de entrada em Angola e a emissão de vistos de trabalho foi congelada.

Luanda está também a excluir todas as empresas portuguesas dos contratos públicos e a levantar-lhes grandes entraves operacionais. E os produtos portugueses importados estão a ser substituídos por produtos de outros países ou por produção local

As remessas de fundos para Portugal também estão a ser limitadas, tendo caído para menos de 160 milhões de dólares, no ano passado, o que representa uma quebra para metade face a 2013.

No quadro da ruptura estratégia bilateral, Luanda instruiu também os grupos angolanos para se retirarem de todas as joint-ventures com grupos portugueses em que não tenha o controlo absoluto. A ordem é controlar ou sair, o que terá efeitos a muito curto prazo na estrutura accionista do Millennium bcp, Banco BPI, Nos e Galp.

Na semana passada, Isabel dos Santos, accionista de referência do BPI e da Galp Energia, esteve em Lisboa a preparar a sua estratégia com o seu homem-forte em Lisboa, Mário Silva.

Na Global Media e na Soares da Costa, o empresário angolano António Mosquito está já em retirada e o mesmo se passa nas empresas onde o general Kopelipa e Álvaro Sobrinho detém participações.

China investiu 23 mil milhões em 4 anos nos PALOP

O apoio financeiro da China aos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) ascendeu a 22,6 mil milhões de dólares entre 2000 e 2014, metade dos quais dirigidos a Angola, de acordo com números oficiais chineses.

Cerca de metade daquele montante (11 mil milhões, foram apoios ao desenvolvimento, sendo Moçambique o maior beneficiário, com 6500 milhões de dólares, seguido de Angola (3900), Cabo Verde (439 milhões) e Guiné-Bissau (126 milhões de dólares).

O investimento oficial e directo dos chineses somou 11,6 mil milhões de dólares, dos quais 9,8 mil milhões de dólares para Angola, 1,6 mil milhões para Moçambique e 130 milhões para a Guiné-Bissau.

Uma plataforma pan-europeia eurocéptica para minar a União Europeia? 

O grupo Europe of Nations and Freedom (ENF) foi criado em 2015 no Parlamento Europeu, por iniciativa dos partidos eurocépticos e anti-imigração, incluindo a Frente Nacional, de Marine Le Pen, a italiana Lega Nord, o Vlaams Belang da Bélgica, o Freedom Party of Austria e do Geert Wilders Party for Freedom. Marta Lorimer disse, na primeira Convenção do ENF, que decorreu em Janeiro, em Milão, que, embora as ideias expressas pareçam pouco inovadoras, elas são genuinamente novas em termos de conteúdo. A convenção ilustra a medida em que as facções de extrema-direita do espectro político estão dispostas a cooperar relativamente à sua oposição quanto ao futuro da UE.

A 28 e 29 de Janeiro, os líderes dos partidos que integram o ENF reuniram-se em Milão. Foi a primeira vez que o ENF, composto pelos mais proeminentes líderes da extrema-direita europeia, se reuniu fora de Estrasburgo. Sob o slogan “Freer, stronger: another Europe is possible”, Marine Le Pen (Frente Nacional, França), Matteo Salvini (Lega Nord, Itália), Heinz-Christian Strache (Freiheitliche Partei Österreichs, Áustria), Tom Van Grieken (Vlaams Belang, Bélgica) e Geert Wilders (Partij voor de Vrijheid, Holanda), entre outros, apresentaram o seu projecto para uma Europa diferente.

Os problemas: Schengen, islamismo e a UE

Talvez sem surpresa, a crise migratória dominou a agenda. Os vários membros do ENF previram (e congratularam-se com) a “morte de Schengen” e o retorno necessário aos controlos nas fronteiras. Na sequência dos ataques em Paris e Colónia, em particular, a abertura das fronteiras foi apresentada como um perigo para os valores democráticos ocidentais e como uma fonte de inquietação para os povos da Europa. Durante a conferência, Schengen foi acusado de colocar os europeus uns contra os outros, traindo, assim, o espírito original da cooperação europeia, que foi concebida para promover a paz entre os seus povos.

Intimamente ligada à crise de migração, vários líderes abordaram a “ameaça islâmica”. Seguindo uma tendência cada vez mais comum entre a extrema-direita europeia (e não só), o Islão foi apresentado como incompatível e de facto perigoso para as democracias ocidentais. Nenhum líder insistiu neste ponto, tanto quanto Geert Wilders, que durante anos afirmou que wahabismo e salafismo não são compatíveis com a liberdade e representam uma “ameaça existencial” para a civilização ocidental.

O italiano Salvini, no mesmo sentido, sugeriu que a interpretação “fanática” do Alcorão é “incompatível” com direitos na Europa Ocidental.

Islão e migração, no entanto, não seriam problemas se não fossem os verdadeiros responsáveis da crise da Europa: a UE e as classes políticas nacionais, que não conseguem justificar Bruxelas. Acusada de “incompetência” e “politicamente correcta”, por Van Krieken, a União Europeia foi criticada em todas as frentes, desde a sua participação nos bailouts dos países com problemas de dívida, à criação do euro e à introdução de Schengen.

A solução: fim de Schengen, menos UE e o retorno à soberania nacional

Concretamente, o que emergiu das várias intervenções foi a ideia de que se a Europa quiser ter um futuro, a UE terá que mudar radicalmente. Caso contrário, desaparecerá. Os políticos do ENF defendem um retorno ao que, nas suas opiniões, foi o espírito inicial da Europa: um projecto de colaboração em nome da paz e da prosperidade, onde os povos soberanos poderiam decidir cooperar em determinados projectos e não serem obrigados a colaborar “à força” imposta por Bruxelas.

A extrema-direita sugere que este objectivo não está fora do alcance, e que há boas razões para esperar que a mudança está ao virar da esquina. Em primeiro lugar, a crise migratória pode levar à reintrodução de controlos nas fronteiras e à limitação das entradas provenientes de países não pertencentes à UE. Em segundo lugar, expressaram uma confiança firme no facto de que “o povo”, vendo que a UE não funciona, começará a revoltar-se contra as elites e iniciará uma “revolução democrática”, que derrubará o velho sistema e permitirá um retorno ao status quo anterior. Em suma, uma “Primavera Patriótica”, destinada a criar uma nova Europa, com menos pedidos de asilo, controlos nas fronteiras e nações soberanas.

A (bem-sucedida) cooperação entre a extrema-direita?

Não há nada de novo no projecto do ENF. A maioria dos discursos, ainda que seja um ensaio de programas e intervenções regulares das partes, não adianta nada de genuinamente novo. O que parece mais impressionante é a sua vontade e capacidade de colaborar fora das instituições europeias. A cooperação transnacional dos partidos de extrema-direita não é inédita, mas nunca foi particularmente bem sucedida e raramente tem saído do Parlamento Europeu. A importância real da convenção não é efectivamente o que foi dito, mas o formato do encontro: uma convenção, com trocas de ideias e discursos, que se assemelha a um congresso de um normal partido europeu.

Pode ser muito cedo para se falar de um caso de sucesso na cooperação transnacional, mas o que a convenção mostrou é que o ENF, embora reconhecendo abertamente as diferenças entre os seus membros, parece ter convergido para um único objectivo. Tanto aqueles que defendem uma “Europa das Nações”, como a Frente Nacional francesa, como os defensores de uma “Europa das Regiões”, como o Vlaams Belang, parecem concordar na necessidade de recuperar a sua própria soberania e se opor ao modelo da Europa do alargamento. A palavra-chave a ser lembrada aqui é “diversidade”. A Europa, para eles, não é unidade: é sobre as diversas culturas e Nações da Europa que a UE está a tentar harmonizar e transformando-se gradualmente (na sua visão) num super-Estado unitário. Para proteger essa diversidade, os líderes dos partidos do grupo ENF estão prontos a deixar de lado as suas diferenças e juntar-se num projecto colectivo de destruir esta UE

Resgate na União Bancária: a receita para o desastre

BCE

A fuga de capitais dos países do Sul, como Portugal, está a acentuar-se e o mecanismo de resgate e salvamento dos bancos só veio agravar a situação.

No dia 1 de Janeiro de 2016 entrou oficialmente em vigor o novo sistema de supervisão bancária e resolução na União Bancária da Zona Euro.

A mudança para uma União Bancária tem sido o resultado mais significativo da regulamentação da crise financeira – “uma mudança de regime, em vez de um acto de arranjos institucionais” –, como Christos Hadji Emmanuil, da London School of Economics, escreveu no seu paper muito abrangente sobre o tema, sendo amplamente aceite que, “mesmo na sua forma actual incompleta [a União Bancária], é o maior sucesso da política estrutural única da UE desde o início da crise financeira”. Um olhar mais atento, porém, revela que a União Bancária – tal como está, pelo menos – é simplesmente o mais recente passo no pós-crise da UE, como prescritor da austeridade e do ajustamento assimétrico, o que poderá eventualmente colocar o último prego no caixão da União Económica e Monetária (UEM), ao exacerbar os desequilíbrios núcleo-periferia e até mesmo ao aumentar o risco de crises bancárias. O que se passou em Portugal com o Novo Banco e com o Banif indicia exactamente esse excesso de protagonismo ilegítimo, uma espécie de usurpação de poder por parte de Bruxelas, muito desconfortável para os governos nacionais.

A intenção original da União Bancária era “quebrar o círculo vicioso entre bancos e soberanos” com a mutualização dos custos fiscais da resolução bancária. Este foi o resultado de um reconhecimento tardio dos decisores europeus, sobre a necessidade de aliviar individualmente os Estados-membros da responsabilidade orçamental com as operações de resgate da banca e pôr fim à fragmentação das fronteiras nacionais, relativamente às condições bancárias e monetárias (consideradas justamente por serem uma das principais causas das críticas nacionalistas à união monetária). O estabelecimento de um mecanismo de financiamento público conjunto – o chamado “tampão fiscal/orçamental” comum – para toda a Zona Euro foi considerado essencial para esta finalidade. O pré-requisito para uma mutualização dos custos de resgate, no entanto, foi a centralização da responsabilidade pela supervisão bancária e resolução na área do euro, de modo a impedir a externalização dos custos orçamentais da falha regulatória, por parte dos países com regimes regulatórios laxistas. Essas foram as considerações que levaram os líderes europeus, em 29 de Junho de 2012, a afirmar explicitamente a necessidade de quebrar o “círculo vicioso entre bancos e soberanos”, acrescentando que “quando um Mecanismo Único de Supervisão efectiva – o MUS – for estabelecido, envolvendo o BCE, na área do Sistema Monetário Europeu, poderia, na sequência de uma decisão regular, ter a possibilidade de recapitalizar os bancos directamente”.

No decurso da construção da União Bancária, no entanto, algo notável aconteceu: “A centralização da supervisão foi realizada de forma decisiva; mas, entretanto, a sua premissa real (isto é, a centralização do recuo orçamental para a resolução de banco) foi abandonada”, como verificamos com o que aconteceu com o Banif, em que Portugal acabou por não escapar ao procedimento por défice excessivo, pois teve de enquadrar nas contas de 2016 o resgate imposto pela Direcção-Geral de Concorrência da Comissão Europeia. Num ano, a Alemanha e os seus aliados obtiveram a destruição da ideia inicial:

  • A exclusão da União Bancária de qualquer esquema de seguro de depósito comum;
  • A manutenção de um veto nacional eficaz sobre o uso de recursos financeiros comuns;
  • A exclusão provável dos chamados “legacy assets” – isto é, as dívidas contraídas antes do estabelecimento efectivo da União Bancária – a partir de qualquer programa de recapitalização, na base de que isto equivaleria a uma mutualização ex post facto, ou custos derivados das falhas de supervisão nacionais passadas (embora a questão permaneça em aberto);
  • Criticamente, uma hierarquia muito rígida e inflexível de repartição dos encargos, que visa assegurar que (1) a utilização de fundos públicos na resolução dos bancos seria evitada por todos, mas, em circunstâncias mais prementes, e mesmo assim reduzidas ao mínimo, seria feita através de uma fiança; e que (2) a responsabilidade fiscal primária da resolução permaneceria a nível nacional, com o recuo do efeito orçamental mutualizado, que serviria apenas como absolutamente um último recurso.

Salvar bancos em dificuldades

Em suma, quando um banco se vê em apuros, os stakeholders existentes – accionistas, credores juniores e, dependendo das circunstâncias, até mesmo os credores seniores e os depositantes com depósitos que excedam o montante garantido de 100 mil euros – são obrigados a contribuir para a absorção de prejuízos e para a recapitalização do banco, através de um write-down das suas reivindicações de capital e de dívida e/ou a conversão de créditos em capital.

Só então, se as contribuições das entidades privadas não forem suficientes – e sob condições muito restritas –, podem o Mecanismo Único de Resolução (MUR) e o Fundo Único de Resolução (FUR) ser postos em acção. Não obstante a problemática cascata de repartição de encargos da União Bancária, o FUR apresenta inúmeros problemas em si. O fundo é baseado em, ou constituído por, contribuições do próprio sector financeiro, a serem construídas gradualmente ao longo de um período de oito anos, a contar de 1 de Janeiro de 2016. O nível-alvo para os meios financeiros de pré-financiado do FUR foi fixado em nada menos do que 1% dos depósitos de todos os bancos autorizados na União Bancária, depósitos cobertos por garantias, no montante de cerca de 55.000.000.000 euros. A menos que todos os passivos a descoberto não-preferenciais sejam contabilizados na íntegra – uma medida extrema que em si teria efeitos colaterais graves –, a intervenção do FUR será limitada a 5% do total do passivo. Isto significa que, em caso de uma crise bancária séria, os recursos do FUR são provavelmente insuficientes (especialmente durante o período de transição do fundo). É o que poderemos assistir este ano em Portugal e em Itália, com a necessidade de novos resgates bancários sem haver recursos no Fundo.

Se um banco permanece subcapitalizado, mesmo depois de todas as fontes de financiamento da resolução acima mencionadas tiverem sido esgotadas – e mesmo assim, em condições muito rigorosas –, os Estados-membros podem solicitar a intervenção do existente fundo europeu permanente de resgate, o MEE (Mecanismo Europeu de Estabilidade), através do seu novo Instrumento de Recapitalização Directa (DRI). A maneira como o instrumento for implementado, no entanto, levanta dúvidas quanto à sua importância prática. As regras dos DRI “levantam barreiras significativas para a activação dos próprios DRI, mesmo em situações em que a recapitalização com fundos públicos parece justificada”. Mais importante ainda, o critério de elegibilidade do país leva em conta explicitamente a alternativa de recapitalização indirecta do banco pelo MEE, por meio de um empréstimo ao governo nacional em causa; a menos que essa forma de assistência desencadeie por si só uma drástica deterioração das perspectivas orçamentais do país destinatário, deve ser preferida sobre o DRI. Por outras palavras, o DRI está disponível apenas em situações em que um país é incapaz de financiar por conta própria um resgate, sem comprometer assim as suas perspectivas orçamentais; em todos os outros casos, o governo nacional deve garantir o apoio financeiro ao(s) banco(s) problemático(s), quer através do aumento dos montantes necessários por endividamento no mercado de capitais, ou, na pior das hipóteses, pedindo um empréstimo ao Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). Neste último caso – dependente da aprovação da Comissão, em ligação com o director-gerente do MEE, o BCE e, sempre que necessário, o FMI –, os Estados-membros podem não ser poupados às condicionalidades temíveis da troika, “inclusive, eventualmente, as relacionadas com as políticas económicas gerais do membro do MEE em causa”. Por outras palavras, esses Estados, cujos bancos (e não os governos) tiverem problemas (apesar da supervisão ser do MUS e não dos Estados) e, portanto, necessitam de assistência financeira do MEE, provavelmente serão forçados a implementar os mesmos tipos de austeridade e programa de ajustamento estrutural – cortes do sector público, reduções de salários e assim por diante – como os beneficiários dos empréstimos soberanos têm sido forçados a implementar nos últimos anos.

Estranhamente, mesmo no caso improvável de ser concedido a um banco acesso ao DRI, antes de poder receber injecções directas do fundo compartilhado, o governo requerente deve fornecer o capital necessário para aumentar o rácio de capital mínimo do banco para 4,5% dos seus activos, ou se a instituição já cumpre o rácio de capital, entrar com uma contribuição, variando entre 10 e 20% da contribuição do MEE. O que isto significa é que, no regime actual, os governos nacionais serão sobrecarregados com a responsabilidade financeira primária em relação à assistência pública nos resgates bancários.

“Too Big To Bail”

Mais em geral, até mesmo o FMI expressou abertamente dúvidas sobre o anti-retorno planeado, notando que “os recursos centralizados de resolução podem não ser suficientes para lidar com os resultados dos testes de stress em grandes bancos”. O montante global que o MEE será autorizado a desembolsar para todos para recapitalização dos bancos foi limitado a um valor relativamente insignificante de 60.mil milhões de euros (embora o limite seja supostamente flexível), mais ou menos o mesmo valor previsto para ser levantado através do MUR financiado privadamente pelos bancos. Embora seja uma grande soma, é uma gota no oceano em comparação com os balanços dos bancos da Europa. Para se ter uma ideia, a média do balanço patrimonial de 30 e 15 dos maiores bancos da UE (800 mil milhões euros e 1300 mil milhões, respectivamente) é 13 e 21 vezes maior do que o limite de recapitalização proposto.

Estes bancos não são apenas demasiado grandes para falhar – eles são grandes de mais para socorrer. A falha de qualquer um deles – mesmo admitindo que terá lugar isoladamente, e não como parte de uma crise sistémica mais ampla – exigiria a mobilização de enormes recursos financeiros. Isso também foi comprovado na última crise, com alguns bancos grandes a receberem assistência pública superior a 100 mil milhões de euros.

Com tudo isso em mente, ainda se poderia argumentar que o mecanismo do bail-in representa um passo em frente vis-à-vis os resgates dos últimos anos, limitando a sobrecarga dos Estados soberanos e, portanto, a “socialização” das crises bancárias.

O bail-in é, de facto, uma óptima ferramenta para ter à disposição, uma vez que existem, sem dúvida, numerosos casos em que poderá ser preferível a um resgate. Mas isso tem que ser decidido caso a caso.

Os problemas surgem quando os Estados-membros são forçados a recorrer ao bail-in como o principal método de resolução de bancos, independentemente das consequências potenciais de uma tal medida, da natureza dos problemas do banco, do contexto macroeconómico mais amplo, etc. – que é precisamente o que prescreve a União Bancária. Isto é especialmente verdadeiro à luz do desequilíbrio extremo entre os sistemas bancários na UE, em si um reflexo dos desequilíbrios sociais e macroeconómicos mais amplos entre o núcleo e os países periféricos.

Como os testes de stress recentes do BCE revelaram, os bancos com os maiores défices de capital estão todos localizados em países periféricos, sendo os mais atingidos pela crise: Itália, Grécia, Portugal, Irlanda e Chipre.

Isto não é surpreendente, pois vários estudos têm demonstrado que existe uma relação pró-cíclica clara entre o desempenho macroeconómico negativo de um país e a adequação de capital dos seus bancos. Isto é evidente a partir do volume vertiginoso e rápido crescimento dos créditos malparados (NPL) nesses países – um resultado directo das políticas de austeridade implementadas nos últimos anos e, é claro, a principal razão pela qual os bancos da periferia falharam nos testes de stress do BCE.

O bad banking italiano

O que nos leva à situação paradoxal em que a Itália se encontra hoje. Os bancos do país saíram-se relativamente bem durante a crise financeira e, portanto, não exigiram quase nenhuma ajuda do governo na época (o que se passou em Portugal também com o BES, por exemplo, onde a crise veio depois); desde então, devido ao colapso socioeconómico sem precedentes do país, como resultado da austeridade imposta pela CE, os balanços dos bancos italianos têm-se deteriorado muitíssimo, e hoje – depois de um período de sete anos, acumulam créditos malparados – enfrentam uma crise de todo o sistema (como, aliás, está a acontecer em Portugal, onde se espera o colapso do BCP e do BPI, para além de pequenos bancos como o Montepio Geral ou a CC Crédito Agrícola Mútuo).

Por esta razão, o governo italiano tem estado em conversações com a Comissão há já alguns meses, sobre o seu plano para criar um “bad bank”, para ajudar a descarregar algumas das dívidas incobráveis dos bancos; de momento, no entanto, a Comissão tem rejeitado a solução – curiosamente trata-se da mesma Comissão que, até meados de 2009, havia aprovado 3 milhões de milhões de euros em guarda-chuvas de garantia, escudos de risco e medidas de recapitalização para salvar os bancos da Europa. Mas, finalmente, concordou em dar luz verde ao governo sobre o plano de dívida de garantia, “desde que não viole as regras dos auxílios estatais” (o que é controlado pela DG da Concorrência da UE, autora da inacreditável liquidação e venda do Banif ao Santander), provavelmente para torná-lo totalmente inútil (aliás, as acções bancárias italianas caíram depois da notícia do “acordo”). Na melhor das hipóteses, isso equivale a pouco mais de um band-aid, que a Comissão não poderá conceder a outros países.

Wolfgang Munchau chamava a atenção para a insustentabilidade de Itália na Eurozona, no seu artigo de terça-feira no FT. E referia que, ao contrário do “bad-bank”, que resolveria a situação dos bancos italianos (mas seria considerado como uma ajuda ilegal do Estado), este esquema de Credit Default Swaps (CDS) propostos à CE não alivia os bancos de imediato, mas ajudará a criar um mercado mais eficiente com a venda a prazo de algumas das dívidas tóxicas.

Como resultado, a Itália – e qualquer outro país que enfrente uma situação similar – terá pouca escolha para lidar com os seus bancos que não passe por (a) perdas forçadas dos detentores de obrigações dos bancos em dificuldades – muitas vezes no valor de pequenos poupadores/contribuintes, como vimos no caso da recente resolução de quatro bancos médios italianos atingidos pela crise – ou (b) aceitar um take-over de bancos italianos por capital estrangeiro (dada a limitada disponibilidade de capital nacional), como acontecerá aos bancos portugueses, forçando certamente, a nível europeu, a um aumento da “centralização” do capital, caracterizada por uma concentração gradual de capitais na Alemanha e de outros países do núcleo da área do euro, através de fusões, aquisições e liquidações, e para a periferização ou “mezzogiornification” relativo – também conhecido como “southification” ou “Chinesification” – dos países mais fracos da União, como será o caso de Portugal e Itália. Neste sentido, o sistema de resolução e resgate agora implementado é susceptível de agravar, em vez de reduzir, os desequilíbrios núcleo-periferia.

As novas regras de bail-in também tornam os países mais susceptíveis ao pânico de corridas bancárias, como ainda recentemente assistimos na Madeira, com as notícias postas a circular pela televisão ligada ao Santander sobre o Banif.

Recomeçou a fuga de capitais de Portugal e das periferias

Não há razão para acreditar que este processo já esteja em andamento: vendo os saldos do TARGET do BCE, uma excelente medida de fluxos de capitais intra-UEM, afigura-se que os países da periferia estejam a enfrentar uma enorme fuga de capitais para os países centrais, quase a par dos níveis de 2012. Não seria exagero imaginar que isso é devido ao facto dos depositantes dos países periféricos estarem a fugir por receio de iminentes bail-ins, confiscação, controlos de capital e falências de bancos do tipo que vimos na Grécia e no Chipre.

Quase oito anos depois, o pesadelo europeu continua.

Angola negoceia novo empréstimo com Banco Mundial

O governo de Angola está a negociar com o Banco Mundial um novo programa de empréstimo para o desenvolvimento, ao abrido das chamadas facilidades DPL. O chefe da missão do Banco Mundial, Rafael Barroso, já confirmou a disponibilidade da instituição para ajudar o país na execução das reformas preconizadas até Março de 2016.

A missão do Banco Mundial esteve em Luanda de 25 a 29 de Janeiro a fim de rever as acções anteriores e avaliar o grau de cumprimento das acções previamente acordadas entre as partes no âmbito da primeira operação da facilidade DPL, bem como dar seguimento às negociações concernentes à concessão da segunda iniciativa de apoio à execução e finalização do programa.

O governo angolano anunciou, a 1 de Julho de 2015, um acordo com o Banco Mundial para, que libertou um empréstimo no valor de 450 milhões de dólares e uma garantia financeira para captar recursos no mercado internacional, entre 300 milhões a 1000 milhões.

Banco de Portugal faz braço-de-ferro com angolanos

O actual vice-presidente da Comissão Executiva do Banco BIC Português, Jaime Pereira, é o escolhido para substituir Luís Mira Amaral na presidência, mas o Banco de Portugal já por duas vezes fez saber que não gosta do nome proposto, mantendo o braço-de-ferro com os accionistas angolanos.

O mandato dos actuais dirigentes do BIC terminou em Dezembro e está já convocada uma assembleia-geral de accionistas, para 18 de Fevereiro, para eleger os órgãos sociais para o próximo triénio.

De acordo com a informação recolhida pela Lusa, Jaime Pereira seria o “senhor que se segue” na presidência executiva do BIC Português, que conta com Fernando Teles como presidente do Conselho de Administração, órgão onde também tem assento Isabel dos Santos.

Confisco do BFA e dos créditos a Angola obrigarão a resgate no BPI

A possibilidade do BPI não se entender com Isabel dos Santos abre a porta ao confisco directo do BFA e dos créditos concedidos pelo BPI a Angola. Um cenário cada vez mais em cima da mesa. Neste caso assistiríamos ao resgate do BPI, que provavelmente poderia ser também vendido ao Santander Totta, tal como poderá acontecer ao Novo Banco, por exigência do Mecanismo Único de Supervisão (MUS) do Banco Central Europeu. A doutrina dominante actualmente no MUS é favorável à concentração de bancos e à criação de grandes conglomerados para diminuir os riscos da supervisão bancária nos países periféricos da União Bancária.

Amorim quer renegociação do jogo

Depois de Stanley Ho se ter retirado do Casino do Estoril (e Casino de Lisboa), pelo elevado passivo, Américo Amorim pretende que o governo socialista de António Costa renegoceie a concessão por mais 20 anos. Mas no Partido Socialista um processo desses poderá estar comprometido à partida. O País ganhará muito mais com um processo limpo e transparente, de concurso público internacional para todas as concessões de jogo em Portugal. A última vez que houve um concurso foi no primeiro governo de Cavaco Silva.