Fosun apanhada em caso de corrupção na China

A Fosun foi ontem publicamente envolvida num escândalo na China, devido à venda por u,m preço suspeitosamente baixo, de dois imóveis a um alto dirigente de uma companhia estatal.

Uma notícia da agência noticiosa oficial chinesa Xinhua fez a ligação da Fosun e do seu chairman, Guo Guangchang, um dos mais poderosos homens de negócios de Xangai, a outro líder empresarial, Wang Zongnan, ex-presidente do grupo estatal Bright Food Group, que foi entretanto condenado a 18 anos de prisão por corrupção e por desvio de fundos numa rede de supermercados para a qual trabalhou de 2001 a 2006. Wang foi preso na passada terça-feira.

O tribunal deu como provado que depois da constituição de uma joint-venture entre a Fosun e a Shanghai Friendship Group, outra companhia estatal de que Wang era director-geral, houve favorecimentos à Fosun, em troca um preço de favor na aquisição de duas moradias, propriedade da Fosun, pelos pais da Wang, em 2003.

A ligação pública da Fosun a este escândalo é mais um sinal do arrefecimento das relações entre o grupo chinês, que controla a Fidelidade e estava concorrente à compra do Novo Banco, e a cúpula dos dirigentes chineses. Há dois meses, uma delegação do governo chinês teve encontros com o governo português, ao mais alto nível, tendo sinalizado o desconforto de Pequim com uma eventual vitória da Fosun na corrida ao Novo Banco e a sua preferência pela proposta dos também chineses da Anbang.

 

 

 

Governo dará cobertura política a adiamento da venda

O primeiro-ministro já informou o governador do Banco de Portugal de que terá cobertura política caso decida adiar a venda do Novo Banco, um cenário que ganhou força, no início da semana, depois de conhecidos os valores das propostas, muito aquém do esperado. A melhor

O governo entende que o risco político de um adiamento da venda é consideravelmente menor do que o de uma má venda, e Pedro Passos Coelho terá já confidenciado junto dos seus próximos que está disposto a trocar tempo por um melhor valor de venda. Até porque o prejuízo na venda do Novo Banco, resultante da diferença entre os 4,9 mil milhões injectados pelo Tesouro e pelo Fundo de Resolução e o valor da venda, impactará negativamente os resultados dos grandes bancos (incluindo a CGD), numa altura em que eles estarão sujeitos a novos testes de stress por parte do Banco Central Europeu (BCE), além de que terá de ser parcialmente reportado nas contas públicas de 2014, relançando o debate sobre o controlo do défice e os resultados económicos da legislatura. Um trunfo que o Governo não quer dar à oposição.

A recusa em vender a baixo preço reforçará ainda a imagem de Pedro Passos Coelho como um político com coragem para tomar decisões difíceis em defesa do interesse nacional. Uma imagem que lhe está a trazer dividendos políticos.

 

Para já, calendário mantém-se

Para já, o calendário de venda mantém-se, apontando para o anúncio formal do novo dono do Novo Banco, na última semana do mês. Ontem, o Banco de Portugal anunciou que irá iniciar negociações exclusivas com os chineses da Anbang.

O grupo chinês fez a melhor oferta, por um valor não oficialmente confirmado entre os 4,0 e os 4,2 mil milhões de euros, dos quais 1500 milhões para recapitalizar o banco. O que, na prática, representará uma perda líquida entre 2,4 e 2,2 milhões, considerada excessiva pelo governo. Nas negociações, mais do que a revisão do valor, o banco central tentará que os chineses acordem numa solução que, a prazo, alivie o Fundo de Resolução e os bancos destas perdas.

Dos 4900 milhões de euros injectados na Resolução do BES/Novo Banco, 3,9 mil milhões correspondem a um empréstimo do Tesouro, 700 milhões vieram do Fundo de Resolução (banca) e o restante foi obtido com a contribuição especial paga pelo sector.

O banco central mantém sob reserva os norte-americanos do Fundo Apolo, donos da Tranquilidade, que poderão ser repescado para uma segunda ronda negocial, caso a Anbang não melhore a sua oferta. Os americanos foram aliás o único dos interessados que melhoraram a sua proposta nesta fase do processo, acenando com o reembolso dos fundos do Fundo de Resolução através da dispersão em bolsa de acções do Novo Banco, minimizando assim o impacto para o sector bancário e o risco para o Estado.

De fora ficam apenas os também chineses Fosun que controlam a Fidelidade e a Luz Saúde. Como O CONFIDENCIAL adiantou, a 20 de Maio, a Fosun foi travada pelo Comité Central do Partido Comunista Chinês. A cúpula dos dirigentes de Pequim está preocupada com a dimensão e o protagonismo excessivos da Fosun e o escândalo de corrupção que ontem rebentou veio confirmar as desconfianças chinesas.

Seja como for, a venda do Novo Banco terá de ocorrer ainda antes de terminado o ano, de forma a não afectar o défice público de 2014. O Eurostat, organismo estatístico da União Europeia, já terá informado Lisboa de que o impacto da venda com prejuízo do banco, face aos 4900 milhões de euros de apoios recebidos, terá sempre de ser reflectido nas contas, com efeito directo no agravamento do défice.

FMI fora do acordo para o terceiro resgate à Grécia?

A resistência a um perdão da dívida grega continua a existir da parte de alguns países europeus. Em cima da mesa está uma redução da dívida pública grega para o dobro do PIB (200% do PIB), condição para o FMI entrar no terceiro resgate.

Porém, Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia, insistiu nesta segunda-feira que o seu país não perdoará um “cêntimo” se houver uma redução da dívida da Grécia (em negociação está a redução da dívida grega a 200% do PIB após este bail-out). Ele disse ao “Der Standard”: “A Eslováquia não vai cortar um único cêntimo na dívida soberana grega, enquanto eu for primeiro-ministro.”

O primeiro-ministro eslovaco está também preocupado com o alargamento do prazo da dívida grega. Segundo o FMI, a Grécia precisaria de uma extensão de 30 anos nos reembolsos para trazer o seu rácio da dívida para um nível sustentável. Mas Fico advertiu que “há outras opções: pode adiar-se as datas dos pagamentos, mas isso tem limites, nós não podemos esperar 100 anos até que a Grécia pague as suas dívidas”.

Recorde-se que Fico defende um Grexit temporário, uma ideia que foi lançada por Schauble durante as conversações em Bruxelas. Ele disse ao jornal: “Não existem regras da UE sobre uma saída do euro… Mas isso não significa, porém, que não se possam criar novas regras. A proposta para uma saída temporária do euro tem vantagens. Eu apoio o acordo alcançado para a Grécia, mas nós estamos a monitorizar muito de perto. Estamos nervosos.”

 

Aqui está um resumo do que aconteceu:

  • A Grécia precisa de dinheiro para se manter à tona. O país está a pedir aos credores um pacote de 86 mil milhões de euros para pagar as suas contas nos próximos três anos. Será o terceiro bail-out em cinco anos. O valor final pode ser maior, já que o país deverá entrar novamente em recessão este ano e manter-se no ano seguinte.
  • Atenas chegou agora a um acordo com os seus credores após longas negociações. Restam apenas pormenores a tratar, de acordo com o ministro das Finanças do país.
  • A Grécia agora vai implementar mais reformas estruturais e orçamentais em troca de fundos. Os pontos de atrito: metas de excedente primário e como executar o fundo de privatizações do país foram resolvidos. O acordo também é esperado na forma como a Grécia vai lidar com seus empréstimos non performaing/crédito malparado.
  • As votações terão lugar em toda a zona do euro. Em primeiro lugar, em Atenas, onde as autoridades gregas já disseram que esperam que o acordo seja ratificado até hoje, quinta-feira. Os ministros das Finanças da zona do euro, depois, darão o sinal verde para o novo pacote amanhã, sexta-feira.
  • O tempo é crítico. O negócio precisa de ser feito até 20 de Agosto para que a Grécia possa fazer o pagamento da dívida no montante de 3,3 mil milhões de euros ao Banco Central Europeu dentro dos prazos.
  • As perguntas permanecem. Irá o Fundo Monetário Internacional (FMI) participar do bail-out, e quando? A Alemanha tem insistido que o Fundo deve ser envolvido em qualquer novo acordo bail-out, mas o FMI diz que não vai participar, a menos que haja alívio da dívida grega. A Alemanha disse que não ao alívio da dívida sem reformas. Portugal e Espanha opuseram-se a qualquer reestruturação da dívida grega em vésperas de eleições (4 de Outubro). A saga continua.
  • A Alemanha ainda poderia inviabilizar o acordo. O país tem poder de voto suficiente na zona do euro para o fundo de resgate (cerca de 25% dos votos) para arruinar com o bail-out. A confiança desapareceu entre os dois países, e o pacote ainda deve ser votado no Bundestag. No entanto, é pouco provável que a Alemanha venha a prejudicar o pacote de resgate, fazendo frente à vontade da diplomacia americana – embora as autoridades alemãs tenham advertido na segunda-feira que iriam procurar transferir tranches de empréstimo menores para a Grécia, ficando assim o auxílio mais estreitamente associado ao progresso das reformas.

Palhares tem 8 anos para pagar compra do Finibanco Angola

Mário Palhares ainda não liquidou os 26 milhões de dólares que ofereceu para compra dos 30,57% do Finibanco Angola, que lhe permitem elevar a sua participação no banco angolano do Montepio Geral, para 49%. O acordo de compra prevê um prazo de oito anos para a liquidação, dando total liberdade a Mário Palhares sobre a forma de pagamento.

Apesar de o negócio ter sido fechado agora, Ana Lúcia Louro Palhares, filha de Mário Palhares, já tinha sido nomeada para o Conselho de Administração do Finibanco Angola, no início de 2013.

Montepio fecha triângulo de interesses Luanda-Lisboa

A compra de 30,57% do capital do Finibanco Angola, pelo empresário angolano Mário Palhares, coloca o Montepio Geral e Tomás Correia (actual presidente do Conselho de Administração do Finibanco Angola e que até há uma semana era presidente executivo da Caixa Económica Montepio Geral), como vértice de um intrincado triângulo de interesses, que interliga Palhares e uma das filhas do presidente angolano José Eduardo dos Santos e outros nomes poderosos de Angola, ao consultor português António Bernardo e a alguns parceiros de negócios sob investigação das autoridades portuguesas.

No fim-de-semana de 11 e 12 de Julho, Tomás Correia deslocou-se a Luanda, como convidado para o casamento da filha de Palhares, revelando a sua proximidade com a família do empresário angolano, também muito próxima de Humberto da Costa Leite, que em 2010 vendeu o Finibanco e o Finibanco Angola ao Montepio Geral.

Apesar de Tomás Correia ter, em Janeiro último, renunciado ao cargo de presidente do Montepio Holding (entidade que detém agora 51% do Finibanco Angola), manter-se-á como presidente daquele banco angolano, uma vez que a ameaça de não reconhecimento de idoneidade por parte do Banco de Portugal não é extensível àquela jurisdição, tutelada pelo Banco Nacional de Angola.

Mário Palhares, o banqueiro dos filhos do presidente

Fundador e presidente do Banco de Negócios Internacional (BNI) angolano, Mário Palhares foi administrador e vice-governador do Banco Nacional de Angola, o banco central do país, e fundador e presidente executivo do Banco Africano de Investimentos (BAI) e presidente do Conselho de Administração do BAI Europa, com sede em Lisboa. Participou ainda na fundação do Banco de Comércio e Indústria (BCI) em Angola.

É, desde a semana passada, o maior accionista local do Finibanco Angola, onde tem como parceiro o Montepio Geral.

Mário Palhares é um dos sócios da Pivot SGPS, o veículo de investimentos que comprou no início do mês o Banco Efisa, numa operação assessorada pela Abreu Advogados. Na Pivot, Palhares tem como sócios os britânicos da Aethel, uma sociedade constituída há um ano por Ricardo Santos Silva (ex-Banco Espírito Santo de Investimentos), Aba Schubert e António Bernardo, consultor da Roland Berger, responsável pelas regiões da América Latina, Angola, Moçambique e Portugal.

No início de Março ficou a saber-se que a participação de 30% de “Tchizé” dos Santos, filha do presidente angolano José Eduardo dos Santos, na criação do Banco Prestígio, em Angola, só foi possível através de um empréstimo concedido pelo BNI, o banco de Mário Palhares.

Amigo de longa data de Maria Luísa Abrantes, mãe de “Tchizé” dos Santos, Mário Palhares foi, ainda como presidente do BAI, um dos impulsionadores e principais consultores dos projectos e negócios da filha do presidente. “Tchizé” dos Santos foi, aliás, sócia fundadora do BNI e, mesmo depois de ter vendido as suas acções, manteve uma excelente relação com o banqueiro.

Com sede em Luanda, o BNI iniciou a sua actividade em Novembro de 2006, totalmente detido por investidores angolanos. Os accionistas fundadores do banco foram Mário Moreira Palhares (detentor de 45% do capital) e Welwitschea dos Santos (“Tchizé” dos Santos, filha do presidente angolano José Eduardo dos Santos, ex-deputada do MPLA, responsável do canal público de televisão TPA1 e sócia da Semba Comunicações, entre outros negócios), que ficou administradora não executiva e detentora de 13,3%.

Os outros fundadores foram o general João de Matos (7%), ex-chefe de Estado-Maior das Forças Armadas e ligado à Genius, a holding onde está também com o ex-governador do Banco Nacional de Angola, Mário Pizarro, e que detém importantes concessões diamantíferas,  e interesses nas áreas das telecomunicações, imobiliário e energia; José Eduardo Paulino dos Santos (6,6%), também filho de José Eduardo dos Santos e sócio da Semba Comunicações; Arnaldo Sousa Calado (6%), administrador não executivo do banco e presidente da empresa estatal de diamantes Endiama; José Garcia Boyol (5%), vice-presidente do BNI e
presidente do Banco Privado Internacional de Cabo Verde; e Ricardo Viegas de Abreu, vice-presidente do BNI e antigo vice-governador do Banco Nacional de Angola, com 5,0%

Em Abril do ano passado, os accionistas do Banco de Negócios Internacional (BNI) decidiram aumentar o capital social, passando-o de 63 milhões de dólares para 150 milhões de dólares. Três meses depois, o BNI Europa começou a operar em Portugal, seguindo a estratégia anteriormente ensaiada com o BAI Europa.

A fortuna de Mário Palhares começou a construir-se pouco depois de terminada a guerra civil em Angola.

Em Maio de 2002, o então presidente e CEO da Sonangol, Manuel Vicente (hoje vice-presidente e um dos mais próximos colaboradores de José Eduardo dos Santos), fez uma parceria com os sul-africanos do grupo de construção Grinaker, o Banco Africano de Investimentos (BAI) e Mário Palhares, para a área da construção e das obras públicas. Cada um dos sócios ficou com 25% do capital da Grinaker Angola.

Meses depois, após constituída, a Grinaker Angola ganhou, em consórcio com a empresa portuguesa de engenharia Soares da Costa, um contrato para a construção da nova sede da Sonangol, uma torre de 21 pisos, na baixa de Luanda, que custou 83,5 milhões de dólares.

A mesma aliança Soares da Costa-Grinaker ganhou, em 2006, o contrato para a construção da sede da Sonangol P&P, a subsidiária operacional do grupo Sonangol. Um edifício de 14 pisos que exigiu um investimento de 56,6 milhões de dólares.

Manuel Vicente, além de presidente e CEO da Sonangol, era à data também o vice-presidente do Conselho de Administração do BAI, em representação da posição (minoritária de 8,5%) da Sonangol. “Tchizé” dos Santos, por seu lado, desempenhou um papel importante na promoção das Torres do Oceano e Dolce Vita, empreendimentos construídos em Luanda pela Ludomus, empresa de construção detida pelo grupo José Guilherme, tendo como gerentes Paulo Guilherme (filho do construtor José Guilherme) e Eurico Brito, ambos detentores de 15% da emissão de unidades de participação do fundo de participação constituído em Dezembro de 2013 para reforço do capital da Caixa Económica Montepio Geral. Recorde-se que esta operação é o epicentro da investigação em curso pelas autoridades, uma vez que, na sua origem, estão financiamentos do Finibanco Angola sob suspeita de branqueamento de capitais.

António Bernardo, o consultor banqueiro

Do grupo de amigos de Mário Palhares faz ainda parte o consultor António Bernardo, partner e presidente da Roland Berger Portugal, o qual está ligado indirectamente ao Finibanco Angola, através da private equity portuguesa Iberpartners, de que Bernardo é accionista juntamente com Jorge Armindo (ex-Amorim Turismo). A Iberpartners, detentora de 2% do Finibanco Angola, firmou um contrato de alienação das suas acções a Mário Palhares, em Setembro de 2013. No acto, ocorrido na sede do Montepio em Lisboa, estiveram presentes Alberto Teixeira (filho de Jorge Armindo e gestor em representação da Iberpartners) e Carlos Rodrigues, representante de Mário Palhares, accionista e administrador do BNI. Até hoje, a operação não foi liquidada.
O CEO da Iberpartners é João Barbosa, um ex-McKinsey, que foi assessor do secretário de Estado do Tesouro, de 2002 a 2004, no governo de Durão Barroso, e que transitou depois para o gabinete do ministro das Obras Públicas, António Mexia, de 2004 a 2005, no governo de Santana Lopes. Com a queda do governo, Barbosa seria depois colocado como consultor da administração da TAP e Refer, de onde sairia para o Banco Efisa.

António Bernardo é também um dos sócios da Pivot SGPS, o veículo de investimento que na semana passada adquiriu precisamente o Banco Efisa, onde tem como sócios Mário Palhares e Ricardo Santos Silva (ex-BESI).

Foi António Bernardo, enquanto líder da Roland Berger, que definiu a estratégia de expansão da rede Finibanco em 2007, o denominado “Projecto Crescere”, com o objectivo de preparar o Finibanco para a sua venda. Foi também o mentor da reorganização comercial da Caixa Económica Montepio Geral, em 2005. Só com estes dois projectos, a Roland Berger terá facturado aproximadamente cinco milhões de euros.

O consultor esteve na origem da aproximação da família Costa Leite a Tomás Correia, em 2008, o que culminaria, dois anos depois, na venda do grupo Finibanco ao Montepio Geral, uma transacção alvo de investigação pelas autoridades.

António Bernardo é cunhado de Fernando Santo, ex-secretário de Estado da Administração Patrimonial e Equipamentos da Justiça (do Ministério de Paula Teixeira da Cruz), que em Março de 2014 foi contratado para administrador da MGAI – Montepio Gestão de Activos Imobiliários e que, na semana passada, foi eleito para vogal do Conselho de Administração da própria Caixa Económica Montepio Geral, apesar de ser nula a sua experiência profissional na actividade bancária.

Enquanto administrador da MGAI, Fernando Santo contratou dezenas de quadros das entretanto extintas empresas municipais de Lisboa EPUL (empresa da qual foi director e assessor da administração entre 1995 e 2009) e Gebalis. Foi, aliás, Fernando Santo que, em representação do Montepio, negociou a permuta de terrenos na Praça de Espanha, entre o Montepio Geral e a Câmara Municipal de Lisboa. Na sequência desta operação, o Montepio pagou 12 milhões de euros à Camara Municipal de Lisboa, permitindo ao então presidente da autarquia e actual líder do PS, António Costa, reduzir o défice camarário.

Da actual administração, Fernando Santo, João Cunha Neves (que transita da administração anterior da CEMG e também administrador do Finibanco Angola), Luís Maia Almeida (administrador do Finibanco Angola e ex-director-geral do Banco da África Ocidental – Guiné
Bissau) e Luís Jesus (ex-auditor da KPMG, auditora actual da Caixa Económica e do Finibanco Angola) são apontados como da directa confiança de Tomás Correia, o que, a ser confirmado o registo individual por parte do Banco de Portugal, lhe poderá permitir manter o controlo sobre a gestão agora empossada.

 

 

Miguel Macedo envolvido em mais um caso

O ex-ministro Miguel Macedo está a ser investigado no âmbito de um processo que tem a ver com o concurso dos helicópteros para combate a incêndios, garantiram ao CONFIDENCIAL.

O ex-ministro da Administração Interna já estava indiciado pelo crime de prevaricação de titular de cargo público, depois de o seu nome ter sido envolvido na investigação da Polícia Judiciária sobre a atribuição de Vistos Gold (a denominada Operação Labirinto), que o levou a apresentar a demissão, em Novembro do ano passado, e às detenções do ex-presidente do Instituto de Registos e Notariado e de Maria Antónia Anes, antiga secretária-geral do Ministério da Justiça.

Bancos portugueses falham testes de stress

Nenhum dos grandes bancos portugueses passará nos testes de stress que o Banco Central Europeu (BCE) tem agendados para Outubro, segundo um exercício de simulação a que o CONFIDENCIAL teve acesso. A instituição responsável pela simulação, com base nas contas do primeiro semestre do ano, pediu para não ser referenciada.

Todos os bancos são penalizados pelo risco elevado das suas carteiras de grandes clientes e, no caso da CGD e do BPI, o problema é agravado pela exposição ao risco de Angola, devido às posições de controlo que ambos detêm em bancos locais. Um problema que o Santander e o Montepio aliviaram, depois de reduzirem as suas posições nos bancos participados de Angola (no caso do Santander Totta a 0%).

Todos os bancos revelam insuficiência de capitais para atingirem os novos mínimos ponderados exigidos pelo BCE, o que exigirá uma desalavancagem da actividade e uma redução do risco de exposição a grandes clientes, como alternativa a reforços de capitais, hipótese afastada pela falta de liquidez dos accionistas dos grandes bancos, incluindo do Estado.

A corrida para cumprir os rácios agitará o sector nos próximos dois meses, com alterações significativas na composição accionista de alguns bancos, a possibilidade de fusões ou parcerias, vendas de activos e uma enorme pressão sobre os grandes devedores. Dados como muito prováveis são a redução da posição do BPI no angolano BFA, com a venda provavelmente à parceira local, Isabel dos Santos, e a necessidade de Banif e Montepio Geral reforçarem os seus capitais próprios, não sendo de excluir a entrada de novos accionistas.

 

Álvaro Sobrinho lança grupo-espelho

Consciente de que as autoridades portuguesas já desfizeram o novelo dos seus interesses económicos, abrindo a porta para os primeiros arrestos de bens, o empresário angolano Álvaro Sobrinho está a duplicar todos os seus negócios, numa espécie de espelho do seu grupo actual. Sobrinho já terá novos investimentos nos media, replicando os que tinha na Newshold (semanário “Sol” e diário “i” e semanário angolano de negócios “Expansão”), na banca, no imobiliário e na indústria.

Entretanto, o empresário avançou com uma acção em Londres contra o semanário “Expresso”. A escolha da capital londrina tem a ver com o facto da Justiça inglesa garantir, no entender de Álvaro Sobrinho, maior rapidez e independência no processo.

CMTV prepara independência da Meo

O contrato de exclusividade da Correio da Manhã TV com a Meo termina em Dezembro, abrindo a possibilidade da Cofina colocar a emissão do canal nos outros distribuidores. Em troca de uma quebra de receitas da ordem dos 6 milhões de euros/ano, a Cofina conta com o alargamento da sua base de audiência para alavancar as receitas comerciais.

As negociações com a Cabovisão, Nos e Vodafone estão a ser duras, com os distribuidores a esmagarem as margens, enquanto a própria Meo já anunciou que vai reduzir o seu investimento nos media, Cofina incluída. Apesar dos bons resultados em termos de audiência, tendo em conta que apenas esteve até agora na Meo, a CMTV continua a não conseguir os resultados comerciais inicialmente esperados.

 

O desafio da desvalorização das divisas

As moedas dos países latino-americanos estão a passar por um 2015 complicado. O real brasileiro desvalorizou-se 33% este ano em relação ao dólar. O peso mexicano, por sua vez, caiu 19%; o peso colombiano, 35%; e o peso argentino, 10%. De acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), essas moedas ainda terão outros sustos pela frente. A directora-gerente da instituição, Christine Lagarde, previu no final de Julho “ainda mais volatilidade para as moedas da região”, especialmente se o Fed (Banco Central dos EUA) elevar as taxas de juros. Foi o que deixou transparecer numa entrevista colectiva online ao analisar a situação económica internacional.

A maior parte dos analistas ressalta que a subida das taxas de juros nos EUA, e o consequente fortalecimento do dólar, seria uma das principais causas da má sorte das moedas latino-americanas. A presidente do Fed, Janet Yellen, adiantou que a elevação do preço do dinheiro ocorrerá antes do final do ano. De modo geral, os economistas apostam que a elevação ocorrerá na reunião do Fed programada para Setembro.

O que está a acontecer no mundo é um reajuste dos níveis das taxas de câmbio depois do período mais longo de taxas negativas nos EUA. Ao mesmo tempo, chegou ao fim a política de quantitative easing [compra de títulos do Tesouro americano pelo Fed para injectar liquidez na economia]. A expectativa de aumento para breve das taxas de juros acelerou o processo de reajuste. Quando as taxas de juros dos EUA baixaram, na primeira década do século, os capitais procuraram rapidamente as economias emergentes e a Europa, tendo esse processo se acentuado em 2008. Agora, as taxas de câmbio estão a voltar ao ponto onde estavam anteriormente.

O Relatório Económico da América Latina e do Caribe de 2015, da Comissão Económica para a América Latina e Caribe da ONU (Cepal), apresentado no final do último mês de Julho, também chama a atenção para alguns acontecimentos importantes que explicam a queda das moedas da região, como “a menor disponibilidade de fundos nos mercados internacionais, o menor apetite por activos de países emergentes, a desaceleração do crescimento nos países da região e menores taxas de juros como consequência da flexibilização das condições monetárias”.

A desvalorização das moedas terá consequências directas sobre a situação económica dos países afectados, embora não se verifiquem efeitos negativos em todos os casos.

Os investimentos directos nos países vão diminuir e, de facto, já são menores, seja porque se destinam, em grande parte, ao sector primário, e como os preços das matérias-primas baixaram significativamente, não é mais rentável investir, por exemplo, em novas minas de cobre, ou novos poços de petróleo. Os países que poderão ser mais afectados são os de base exportadora mais primária, como o Chile, Peru, Bolívia, Equador e Venezuela.

Contudo, a desvalorização das moedas na América do Sul poderá também ser favorável, como espera a China com a sua desvalorização desta semana, para as exportações de bens industriais e serviços, e para as bolsas de valores e mercados de bens primários, os quais deixariam de estar empolados.