Relvas rompe com Cunha Vaz

Os serviços de consultoria de António Cunha Vaz a António Costa e ao Partido Socialista, na campanha para as eleições legislativas de 4 de Outubro, minaram as relações entre o consultor e o poderoso ex-ministro Miguel Relvas, uma das eminências pardas do PSD.

Relvas foi a porta de acesso da agência de comunicação de António Cunha Vaz aos contratos com grandes empresas do Estado e em operações de privatização. O CONFIDENCIAL sabe que o desconforto causado pelo alinhamento da agência com o maior partido da oposição se irá reflectir nos negócios, caso a coligação PSD-CDS se mantenha no poder.

Angolanos com chineses na REN

A ligação da State Grid à portuguesa REN é um dos principais entraves à entrada dos chineses no plano de recuperação e modernização da rede eléctrica de Angola, um dos maiores projectos públicos de África dos próximos anos. Apesar dos acordos de cooperação entre Pequim e Luanda, que reabriram o pipeline de negócios angolanos às grandes companhias chinesas, as más relações de Angola com Lisboa estão a minar todos os acordos que envolvam capital português, ainda que indirectamente.

Por outro lado, e depois de Isabel dos Santos e da empresa estatal de distribuição de electricidade em Angola terem tomado a maioria do capital da Efacec, a recuperação da rede passará sempre por empresas onde existam accionistas angolanos relevantes.

O CONFIDENCIAL sabe que o projecto de constituição de uma subholding entre a REN e a State Grid para o mercado angolano, anunciada aquando da compra de 25% do capital da empresa portuguesa pelos chineses, há 3 anos, está paralisado em Luanda. Luanda vê com bons olhos a entrada de capitais angolanos na REN, assumindo uma parcela da posição actualmente detida pela State Grid, como contrapartida da abertura dos negócios em Angola.

Nova direcção no “Observador”?

Mudanças para breve no “Observador”, o bem-sucedido projecto de informação online, lançado há pouco mais de um ano por um grupo de empresários próximos de Durão Barroso, disseram ao CONFIDENCIAL. O director David Diniz poderá estar de saída. O sucessor apontado é Luís Rosa, ex-director do jornal i, que entrou este mês no “Observador” pelas mãos de António Carrapatoso, principal impulsionador do projecto.

Apoio público coloca Novo Banco sob o crivo da UE

A contabilização dos 4,9 mil milhões de euros que o Fundo de Resolução emprestou ao Novo Banco vai levar a Comissão Europeia a abrir uma investigação ao plano de reestruturação que Eduardo Stock da Cunha está a ultimar, para avaliar se o financiamento representa uma ajuda de Estado compatível com as regras da União Europeia. Bruxelas quer avaliar a viabilidade a longo prazo do banco e assegurar que a utilização do dinheiro dos contribuintes fica limitada ao valor mais baixo possívelA investigação poderá exigir medidas adicionais de reestruturação do banco, como a venda de activos e um downsizing da actividade. Se não tiver luz verde da Direcção-Geral de Concorrência da UE, o Novo Banco poderá ser obrigado a devolver as ajudas estatais,

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Banif e Montepio na mira da Fosun

A Fosun tem já concluídos os dossiers sobre o Banif e o Montepio Geral, tendo em vista uma eventual entrada do grupo no capital de um dos dois bancos. Além da operação portuguesa do BBVA, a Fosun mantém em aberto a possibilidade de concorrer à nova fase de privatização do Novo Banco.

Falência do BESA reduziu lucros da banca angolana a metade

O resultado líquido agregado dos bancos que operam em Angola sofreu uma diminuição homóloga de 50% em 2014, “influenciado pelo efeito dos resultados do ex-Banco Espírito Santo Angola”, de acordo com a consultora Deloitte Angola, que terça-feira apresentou, em Luanda, a 10.ª edição do estudo “Banca em Análise”.

Sem o efeito da queda do BES Angola, os resultados líquidos do sector teriam registado um crescimento de cerca de 12%.

Malawi relança Mota-Engil África

 

A Mota-Engil ganhou um contrato de 200 milhões de dólares para a construção de um porto seco em Liwonde, no Sul do Malawi. O grupo português assumiu há dois anos a gestão das operações dos portos no Malawi, ao abrigo de um contrato de concessão válido por 35 anos, que lhe garantiu uma carteira de obras de reabilitação das infra-estruturas portuárias do país.

O grupo está também a negociar com o Governo local o relançamento do projecto de um resort turístico de luxo em Monkey Bay, junto ao lago Malawi, que implicará um investimento equivalente a 160 milhões de euros. Em Fevereiro, na sequência de alguns problemas com as comunidades locais, a Mota-Engil anunciou que desistira do projecto.

UE cria fundo de 300 milhões para recuperar infra-estruturas em Moçambique

A União Europeia está a preparar um fundo de 300 milhões de euros para apoiar a recuperação de infra-estruturas em Moçambique, destruídas pelas intempéries climáticas registadas no início do ano, disse o representante da Comissão Europeia em Moçambique, Sven Kühn Von Burgsdorff. O fundo financiará a reparação de estradas, pontes, unidades sanitárias e escolas e que afectaram com gravidade as zonas centro e norte do país. O Governo de Moçambique estima em cerca de 500 milhões de dólares o montante necessário para reparar as infra-estruturas destruídas pelas cheias.

Além do sector de infra-estruturas, a União Europeia está neste momento a apoiar vários sectores de actividade em Moçambique, principalmente a agricultura, tendo recentemente contribuído com quatro milhões de euros, em parceria com o Banco ABC, para financiar um projecto de produção de açúcar, numa área de 530 hectares, com o envolvimento de 362 produtores de pequena escala, nos distritos da Manhiça e Magude.

Chineses em força nos grandes projectos agrícolas de Angola

O grupo estatal chinês CITIC está a negociar com o governo de Angola a concessão de 30 mil hectares de terrenos agrícolas na província do Bié, para o cultivo de arroz, ao abrigo de um projecto que tem o apoio financeiro da banca chinesa.

A CITIC já gere duas explorações agrícolas com 20 mil hectares, nas províncias do Uíge e de Malanje. A propriedade agrícola da CITIC em Malanje, a 380 quilómetros de Luanda, é considerada a mais moderna e avançada de Angola, tendo colhido mais de 10 mil toneladas de cereais na última campanha agrícola. Na fazenda do Uíge, além da agricultura, está em curso o desenvolvimento da pecuária.

Angola consome cerca de 4 milhões de toneladas de cereais por ano, mas necessita de recorrer a importações do Brasil e da Namíbia, entre outros países, uma vez que a produção nacional é de apenas 1,5 milhões de toneladas.

Esta semana, o novo embaixador chinês em Luanda confirmou que a China vai reforçar o apoio ao desenvolvimento agrícola e industrial de Angola, ao abrigo do quadro de cooperação bilateral em vigor.

 

Cenários pós-eleitorais

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Com as sondagens a darem empate técnico, factos como as eleições da Catalunha do próximo domingo podem alterar os debates da campanha e fazer mudar a tendência de voto. Concretamente, com a independência da Catalunha à frente nas sondagens e com os catalães a não se mostrarem intimidados pela chantagem europeia e de Madrid, a possibilidade de uma forte instabilidade política na Península poderá definitivamente ajudar a Coligação a chegar à maioria absoluta, pelo sentimento de estabilidade e medo do desconhecido que uma mudança pode gerar.

Mas à margem destes factores exógenos, com a campanha eleitoral para as legislativas a cumprir a sua primeira semana, os cenários pós-eleitorais começam a agitar as direcções partidárias, com o day after dos próprios partidos políticos a ser equacionado nas estratégias das elites partidárias.

A possibilidade de não existência de uma maioria absoluta cria condições de governabilidade complexas e um governo a prazo, enquanto a fragmentação do sistema de partidos pode definitivamente inviabilizar soluções estáveis de governabilidade, sem coligações, convidando a prazo a uma alteração constitucional (que ninguém quer assumir), no sentido de uma presidencialização do sistema político, que pode ser discutida já na campanha das próximas presidenciais.

Os cenários que neste momento se colocam em cima da mesa passam todos pela inexistência de uma maioria absoluta. E neste contexto, teríamos as hipóteses prováveis: (1) maioria relativa de deputados da Coligação PSD-CDS, com maioria parlamentar de esquerda; e (2) maioria relativa do PS, com maioria absoluta de esquerda.

(1) Maioria da Coligação

Neste cenário, o Presidente da República poderia convidar Pedro Passos Coelho a formar um governo. Haverá a considerar quatro hipóteses: o governo da Coligação PSD-CDS apresenta-se no Parlamento e vê o seu programa aprovado, com o voto (Hipótese 1), ou a abstenção (H2) do Partido Socialista, dois cenários improváveis, em face da luta interna que, logo no dia 4 de Outubro, se estabeleceria dentro do PS, e que inviabilizaria essa posição; ou, num segundo momento, e aprovado o programa do governo, este ser inviabilizado quando, em Dezembro, fosse chumbado o Orçamento do Estado para 2016 (H3); ou ainda, e finalmente, o programa de governo ser inviabilizado (H4), levando o Presidente da República a ter que optar por um novo governo.

Com todas as sondagens a apontarem para a ausência de uma maioria absoluta, seja qual for o partido vitorioso, a hipótese de um governo saído dos partidos políticos começa a ser impraticável. E nesse contexto poderia surgir a necessidade de um governo de iniciativa presidencial, eventualmente chefiado por Manuela Ferreira Leite, numa espécie de coligação entre o cavaquismo e o PS de António Costa, que tem feito uma aproximação ao Presidente da República.

Seria sempre um governo de iniciativa presidencial, suportado por um acordo de incidência parlamentar entre o PSD ou a Coligação (que, entretanto, se desfará no Parlamento, com dois grupos parlamentares autónomos) e o PS, e que duraria apenas até ao Verão de 2016, quando o novo Presidente da República, a ser eleito em Janeiro de 2016, recuperar os poderes constituintes e puder dissolver o Parlamento.

O acordo parlamentar poderia incluir apenas a viabilização do programa do governo e a aprovação de um Orçamento do Estado para 2016, conforme o negociado no Semestre Europeu por Maria Luís Albuquerque. Esta negociação, depois de aprovada, em Setembro, pela Comissão Europeia, não pode ser alterada sem o voto favorável de pelo menos 70% dos Estados-membros, o que é materialmente impossível.

Para o PSD, o problema de um governo com estas características seria a sobrevivência do cavaquismo, que tem estado órfão e que, por necessidade, se aproximou de Marcelo Rebelo de Sousa, e, por outro lado, a prevalência no governo do grupo de António Costa, que dominaria o grupo parlamentar socialista, mas estaria entretanto a ser desalojado da liderança do PS.

Do lado do PSD, os cavaquistas poderiam ser tentados a relançar o nome de Durão Barroso para a Presidência da República, obrigando Marcelo Rebelo de Sousa a desistir. Uma iniciativa que poderia ainda contar com o apoio de Pedro Passos Coelho que, entretanto, como líder da Coligação, não seria afastado da liderança do PSD e se prepararia para ir a votos no Verão do próximo ano.

Tensões deste nível podem ser um convite à fragmentação do espaço partidário da coligação de centro-direita, sobretudo depois de um insucesso dos partidos de direita, nas eleições de 4 de Outubro. O aparecimento de um partido liberal ou de um movimento centrista, apesar da radicalização ideológica na Europa, poderia ser uma novidade para 2016.

 

(2) Vitória de António Costa

Outra possibilidade, diante do empate técnico das sondagens, é uma vitória escassa do Partido Socialista, estando afastada a hipótese de uma vantagem folgada ou mesmo de maioria absoluta à esquerda.

Este cenário é mais favorável a um entendimento entre os grandes partidos centrais. Passos Coelho já assegurou que, se perder por uma escassa maioria, se pretende manter na liderança do PSD, indo a votos no Congresso de Março de 2016, tencionando apresentar-se nas legislativas do Verão seguinte.

Com este cenário, e um ano difícil na Europa pela frente, o Partido Socialista poderia formar um governo que seria aprovado no Parlamento com a abstenção da direita e poderia ver viabilizado o OE 2016, com os votos do PSD e do CDS. Passos Coelho nunca inviabilizará um OE 2016 que cumpra o Semestre Europeu que negociou em Bruxelas, ainda que com algumas nuances do programa socialista.

Porém, esta seria sempre uma solução fraca, que obrigaria o PS a ir negociando apoios pontuais à direita ou à esquerda e que provavelmente cairia logo que o novo Presidente da República recuperasse a possibilidade de dissolver o Parlamento. O primeiro governo de Cavaco Silva e o último de António Guterres conseguiram governar nessas condições, um com sucesso (no início da integração europeia e que levaria às maiorias absolutas de Cavaco Silva), o outro, com António Guterres, criando um pântano entre negócios e política.

Mas depois da crise e da desarticulação dos principais players nacionais não haverá sociedade civil nem empresas que aguentem o país com um governo tão fraco, pelo que a queda seria inevitável.

A alternativa a um governo minoritário do PS é a possibilidade de um governo de coligação com maioria, liderado pelo Partido Socialista. As duas hipóteses, face às sondagens actuais, seriam uma Frente Popular PS-PCP, que nunca aconteceu em Portugal e que dificilmente seria possível em face dos compromissos com o Semestre Europeu, ou uma eventual coligação com o CDS, reeditando o governo PS-CDS de 1978, que viria a fazer o primeiro resgate com o FMI e ao qual sucederia a AD, de Sá Carneiro e Freitas do Amaral. Este cenário será sempre instável e seguramente aguentaria até ao Verão, mas proporcionaria de seguida uma maioria absoluta ao PSD e a provável extinção do CDS no Parlamento.

Um governo do PS com o Bloco de Esquerda não será expectável, de acordo com as sondagens conhecidas, dada a fraca expressão eleitoral do BE, que não deverá somar, com o PS, os 126 mandatos necessários para uma maioria absoluta.

 

Bloco Central ainda é possível?

Antes de ensaiar um acordo de incidência parlamentar que viabilize um governo de iniciativa presidencial, eventualmente presidido por Manuela Ferreira Leite, Cavaco Silva tentará construir uma situação mais estável, na linha do que disse nas comemorações do 10 de Junho: uma coligação entre os partidos do arco da governabilidade, com ou sem CDS.

Este cenário é improvável se Passos Coelho se mantiver à frente do PSD, porque dificilmente o segundo partido da coligação ganhará as legislativas seguintes e, por isso, certamente escolherá o momento de maior fragilidade do PS para mandar abaixo o Bloco Central, como aconteceu com o então PPD, em 1986.

Mas será uma possibilidade real, se Passos Coelho sair da liderança do PSD no dia 4 de Outubro próximo e, por exemplo, Rui Rio assumir a liderança do partido. O PSD, como partido de poder, depende muito dos lugares na estrutura do Estado e por isso preferirá estar no poder, mesmo em coligação, a fazer uma cura de oposição, ainda que seja apenas de um ano. Por isso, seria natural que Rui Rio negociasse uma coligação com António Costa, que poderia manter-se durante uma ou duas legislaturas, aproveitando para fazer as reformas estruturais (de mercado) e do Estado ainda necessárias, à semelhança do que acontece na maioria dos Estados da União Europeia.