Com Durão Barroso a ser empurrado para a ribalta política – esta semana com novo discurso sobre o papel de Portugal na Europa, depois da prestação nas Conferências do Estoril -, começa a ficar claro que a estratégia da Coligação PSD-PP, ao colocar a possibilidade, no acordo celebrado, do apoio a um candidato presidencial antes das legislativas, tinha apenas um único destinatário: o antigo primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.
Recorde-se que Pedro Passos Coelho mandatou os seus vice-presidentes para travarem os potenciais candidatos presidenciais, propondo que avançassem só depois de Outubro, para não prejudicarem o seu partido. O próprio primeiro-ministro falou com Pedro Santana Lopes, ao mesmo tempo que Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio foram travados pelas promessas de eventual apoio de Carlos Carreiras e Marco António, respetivamente. A situação acabou por beneficiar o primeiro-ministro, dentro do próprio PSD, pacificando o desafio extemporâneo à sua liderança, em face de uma eventual derrota nas legislativas.
Porém, sendo agora mais possível que a coligação pode ainda vencer António Costa, e que Pedro Passos Coelho, seja qual for o resultado dificilmente terá a sua liderança no PSD em cheque.
Com efeito, Passos Coelho pode perder a maioria absoluta da coligação, mas ganhará ou perderá por pouco as legislativas de Outubro, sobretudo agora que a economia está a crescer, condicionando definitivamente a solução de governo.
Neste contexto, começa a ser claro no centro-direita que o timing também se pode acelerar. Efectivamente apenas Pedro Santana Lopes tem cumprido o acordo feito com a direção do PSD, no sentido de nada fazer até às legislativas, estando Marcelo Rebelo de Sousa a marcar terreno todos os dias em actividades politicas e sociais, ao mesmo tempo que os apoiantes de Rui Rio vão colocando o antigo secretário de Estado do Orçamento e ex-presidente da Câmara do Porto, em posição de partida. O cenário de Rui Rio não integrar as listas da coligação às legislativas, como cabeça de lista pelo Porto, coloca a possibilidade dos seus apoiantes aumentarem a pressão para que avance para as presidenciais.
Com a marcação do terreno por José Manuel Durão Barroso e com a posição do primeiro-ministro mais segura e confiante – e depois do texto do acordo de coligação abrir a porta a um apoio antecipado a um candidato presidencial comum -, o avanço de outros candidatos no centro-direita pode ser uma possibilidade.
O timing desse anúncio, por causa dos compromissos e equilíbrios na elaboração das listas para a Assembleia da República, pode ser no final de Julho.
O PSD deverá fechar as listas para o Parlamento, na terceira semana de Julho, num Conselho Nacional onde poderá também ser anunciado algum candidato presidencial, ou poderá fazer-se apelo ao apoio a algum candidato a aparecer. Para já são apenas dois novos cenários em cima da mesa.
A possibilidade de Pedro Passos Coelho anunciar, depois do fecho das listas para as Legislativas, que apoiará Durão Barroso, está a ser cada vez mais colocada no seio da coligação. Contaria com o apoio de meios diplomáticos e de Cavaco Silva, reeditando as últimas presidenciais, com um candidato partidário sectário e contra todos.
O apelo do PSD a Pedro Santana Lopes provavelmente só apareceria no caso de Durão Barroso desistir. A desistência de Durão Barroso é igualmente um dado a considerar, por perceber que dificilmente ganhará as eleições presidenciais, pois o País está ainda magoado com o facto de ter abandonado o governo, e não esquecer que, durante a sua presidência da Comissão Europeia, faltou no apoio a Portugal e houve um excessivo alinhamento com a Alemanha. Aliás, José Manuel Barroso sempre achou que não tinha condições para avançar em 2016 e preferia avançar apenas em 2021, deixando a Pedro Santana Lopes o próximo mandato presidencial. Mas a insistência da coligação tira-lhe espaço para continuar a dizer que não, como aconteceu com António Guterres, que deixou o PS órfão, depois da prisão de José Sócrates, claramente a primeira escolha de António Costa e da atual direcção do PS.
Por outro lado, o apoio de Pedro Passos Coelho a Marcelo Rebelo de Sousa está afastado, e só um avanço intempestivo do professor e comentador, marcando todo o terreno e obrigando outros a recuar, poderiam obrigar o primeiro-ministro a garantir-lhe o apoio do PSD. Mas, este é um cenário impossível: o comentador da TVI já disse que só avançaria com a certeza de unidade no centro direita, na primeira volta, situação que jamais acontecerá.
Pedro Santana Lopes avançará sempre, caso Marcelo Rebelo de Sousa anuncie a sua candidatura presidencial antes, até porque o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e ex-primeiro ministro considera que a pluralidade de candidatos à direita alarga o espaço do centro-direita e permitirá a vitória que Freitas do Amaral não conseguiu contra Mário Soares, exatamente por estar sozinho à direita e a esquerda o ter empurrado para a extrema-direita.
O tempo começa a escassear no centro-direita e o jogo de sombras entre candidatos começa a crescer de intensidade.