Depois do elogio de Pedro Passos Coelho a José Manuel Durão Barroso, o antigo presidente da Comissão Europeia está a ponderar o lançamento da sua candidatura presidencial
A par do elogio ao Presidente da República, no aniversário do PSD, o primeiro-ministro cumprimentou Durão Barroso pelo seu papel à frente da Comissão Europeia e indicou o preciso apoio que deu à condução da estratégia portuguesa em Bruxelas.
Tal como já antes havia feito com José Sócrates, aquando da assinatura do Tratado de Lisboa e nos PECs, Durão Barroso ajudou a criar os consensos necessários para o apoio da União Europeia ao Orçamento de Lisboa.
Esta semana, na entrevista Flor Pedroso, foi a vez do líder da JSD equacionar o nome de Barroso na corrida a Belém, num ticket com o primeiro-ministro. Afirmando que o PSD tem vários candidatos possíveis, o líder da Juventude Social Democrata, depois de indicar Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio, avançou com o nome de Durão Barroso.
Durão Barroso, com efeito, além de já ter assegurado o financiamento da sua campanha presidencial na última visita que fez a Angola, tem colocados homens seus em posições influentes, com destaque para Nuno Morais Sarmento e Matos Correia, no comentário político televisivo, e de José Arantes à frente da RTP Internacional. O jornal online Observador, dirigido pelo seu ex-assessor David Dinis, e pago por um fundo gerido por António Carrapatoso, do Compromisso Portugal, foi sempre visto como um instrumento para o lançamento da campanha presidencial de antigo primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia. Apenas José Luís Arnaut, indicado por Durão Barroso para a Goldman Sachs Group, Inc., está com problemas com a Justiça, sendo objeto de investigações no âmbito do processos de corrupção, branqueamento e trafico de influencias, (nomeadamente nos processos dos submarinos e da falência do BES), que já levaram a buscas, por parte da Polícia Judiciária e do Ministério Público, ao seu escritório. A influência de Barroso tem travado o processo, mas admite-se que possa ter evoluções ainda antes do Verão.
José Manuel Barroso contaria com o emprenho do atual Presidente da República, Cavaco Silva, e seria natural do lado da actual liderança do PSD e do CDS. Barroso, que foi acusado de ter abandonado Portugal e o governo e de não ter defendido o País em Bruxelas, teria igualmente o apoio dos socráticos dentro do PS que recordam que o presidente da Comissão Europeia foi um empenhado apoiante de José Sócrates durante os anos em que este foi primeiro-ministro de Portugal.
A ligação que faz entre o PSD de Pedro Passos Coelho e a ala conservadora dos socialistas permitiria facilitar os consensos futuros, para que Cavaco Silva tem apontado, apesar da natural dramatização da actual campanha eleitoral das legislativas, tendo em vista capitalizar mais votos nos partidos centrais.
O eventual avanço de José Manuel Barroso deveria ser anunciado apenas depois das legislativas, embora Passos Coelho possa já ter dado o tiro de partida no aniversário do PSD, na Aula Magna, e agora a JSD venha relançar o seu nome. Muito criticado pelo alinhamento com as posições de alemãs no controlo da União Europeia, Durão Barroso aparece agora, nas palavras do primeiro-ministro, como um dos protagonistas da oposição ao domínio alemão da Europa.
A solução Barroso seria sempre estabilizadora, seja qual for o resultado das legislativas, admitem meios barrosistas. Não só valoriza agora Pedro Passos Coelho – que se pode apresentar informalmente como inserido num ticket que lhe branqueia a actuação relativamente à troika –, como depois pode travar as manobras de Rui Rio no próprio PSD e barrar em definitivo Marcelo Rebelo de Souza.
Note-se que, explicando a estratégia conjunta no âmbito europeu, o próprio Pedro Passos Coelho aparece como defensor dos interesses nacionais contra a hipótese do “suicídio nacional à maneira grega”, mas sobretudo como um dos players no contexto do Conselho Europeu. Passos e Barroso de certo modo valorizam-se um ao outro. Por outro lado o CDS poderia apoiar com facilidade Durão Barroso.
O avanço de Durão Barroso encerraria de vez as possibilidades de candidaturas como as de Rui Rio ou de Marcelo Rebelo de Sousa e dificultaria a estratégia de Pedro Santana Lopes, que teria de ser candidato sem o apoio do PSD e mesmo em ruptura com a estratégia do líder do seu partido.