Andamento da economia e Syriza condicionam eleições

Na comemoração dos 41 anos do PSD, na Aula Magna da Universidade de Lisboa, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho estava particularmente assertivo, mostrando acreditar na vitória do PSD nas legislativas. Mas a maioria governamental depende de factores exógenos, que até podem funcionar a seu favor, e de factores emocionais, que estão a colocar o eleitorado de sobreaviso.

Em primeiro lugar a questão da economia. Na Grécia, em menos de três meses o Syriza arruinou com todas as hipóteses de crescimento, comprometendo não só o pagamento aos credores como a sustentabilidade das próprias Finanças Públicas do País.

Em Bruxelas, a crise grega coloca vários problemas. Em primeiro lugar, começa a ficar claro que os gregos não vão pagar nem os juros nem o capital e que mesmo a sustentabilidade futura pode estar comprometida, pelo que as decisões têm que ser tomadas a nível político e estratégico. Por duas razões: (1) porque o incumprimento da Grécia compromete do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e afecta a reputação da Eurozona e do mecanismo de resgate; e (2) porque se a Grécia fosse abandonada pelos europeus facilmente cairia na esfera de influência de alguma potência externa à NATO, comprometendo o equilíbrio estratégico internacional, ou entraria em colapso, transformando-se num Estado falhado dentro da Europa, com todas as consequências de instabilidade para a região.

O outro factor que pode alertar os eleitores e ser favorável para a maioria governamental PSD/CDS é a maioria absoluta obtida, na passada quinta-feira, pelos conservadores britânicos, depois do rigor imposto pela austeridade, provando que os partidos de governo podem confirmar a maioria em eleições gerais, mesmo depois de programas de ajustamento, em nome da responsabilidade fiscal. A vitória de Cameron vem aliás na sequência da vitória de Angela Merkel na Alemanha.

Grécia e Reino Unido são dois sinais que funcionam emocionalmente a favor da coligação. Mas decisivo para a evolução da economia portuguesa e portanto do bem-estar do País, é a evolução externa e o quadro macroeconómico deste e do próximo ano.

Portugal deverá este ano, de acordo com as nossas estimativas, ter um crescimento económico acima dos 2,5%, considerando os ganhos com o saldo líquido da balança comercial de produtos líquidos – estimado em 2,5 mil milhões de euros –, aos quais acresce a boa performance dos nossos parceiros externos, a começar pela Espanha. Igualmente críticos para as exportações portuguesas fora da Europa, países como Angola e Brasil, recuperam agora com o ajustamento do preço do petróleo – que se situava hoje nos 66 dólares. Os EUA, para onde Portugal tem direcionado exportações, já recuperou dos níveis anteriores à grande crise financeira de 2008.

Nestes termos, só mantendo as previsões de crescimento anteriores e acrescendo o impacto do petróleo – e mesmo sem contar com o impacto dos fundos Portugal 2020 ou do Fundo de Investimento Europeu (Plano Junker) – podemos dizer que Passos Coelho pode contar este ano já com crescimentos económicos históricos no contexto europeu e que a abordagem actual deve ser feita direcionada à valorização unitária das nossas exportações, através da marca, merchandising e promoção, recuperando assim a margem das empresas exportadoras.

Numa estratégia claramente assumida de baixas expectativas, o governo da coligação PSD/CDS começa a acreditar na possibilidade de vencer as legislativas confirmando a bondade da sua opção pelo rigor orçamental e reformas estruturais.

No programa eleitoral dos partidos do governo, e seguindo a estratégia do novo presidente da Comissão Europeia, a aposta agora centra-se no crescimento e emprego, através do investimento apoiado nos fundos comunitários e nas facilidades de crédito do Banco Central Europeu. Persiste o problema da dívida pública portuguesa, que aumentará até aos 132% do PIB, um nível absolutamente insustentável. Mas os credores já iniciaram a reestruturação da mesma, embora discretamente. Boas notícias para Passos Coelho, que beneficia ainda do facto de, internamente, o programa apresentado por economistas próximos do PS legitimar a estratégia seguida até agora, e de António Costa não ter carisma para passar a mensagem do seu partido, repetindo aliás os problemas que António José Seguro já tinha sentido.

 

Uma campanha suja

Além destes aspectos de maior elevação na campanha, e depois das prisão preventiva do ex-primeiro-ministro José Sócrates, deverão aparecer novos casos judiciais envolvendo outras figuras do PS com ligação aos governo socialistas. São esperados igualmente ataques na área do governo., nomeadamente envolvendo figuras da maioria em processos em investigação na Judiciária ou na Procuradoria.

Na semana passada, o site do Sindicato dos Magistrados Judiciais republicava um longo texto sobre o vice-primeiro ministro e líder do CDS/PP, Paulo Portas, envolvendo-o no caso da compra de submarinos e dos carros de combate Pandur e adiantando que, apesar do desaparecimento de parte do processo, existem ainda elementos suficientes para continuar com a investigação. Estas investigações envolvem também figuras políticas do PS e do PSD.