António Costa assume-se como único líder. Saído de uma derrota constrói o seu poder numa rede de relações apoiado num grupo de fieis sampaístas – onde o sentido de tribo chega ao cúmulo de haver relações familiares entre alguns – onde ninguém faz sombra ao líder e em que o único peso pesado é Santos Silva, colocado estrategicamente nos negócios estrangeiros, que passará a maior parte do tempo no estrangeiro. À tribo sampaísta, António Costa junta alguns ingénuos estrangeirados e académicos sem experiência política e facilmente dispensáveis se quiserem ter ideias próprias. Basicamente a escola da Universidade Católica que influenciou o radicalismo austeritário do PSD é substituída pela escola de politicas públicas do ISCTE, a verdadeira escola do sampaísmo político.
Mas curiosamente os vultos da escola mais mediáticos, como Adão e Silva, não entraram nas escolhas de António Costa, num governo em que o chefe é o primeiro ministro e onde ninguém tem estatuto para lhe fazer sombra.
Os pesos pesados do PS de Costa , como Carlos César ou Ferro Rodrigues, ficaram no Parlamento, com a desculpa que o centro do poder se deslocou para lá dado os acordos com o PCP e o BE .
E a cereja no cimo do Bolo nesta estrutura de poder que garante estabilidade a António Costa será a nomeação de Ana Catarina Mendes para secretária geral adjunta do PS, uma costista para a liderança do partido e da estrutura regional do partido.
Estratégia de António Costa
Começa a ser claro que António Costa não desejou incluir no seu governo o Bloco de Esquerda nem o Partido Comunista, mas do mesmo modo que soube construir uma estratégia a partir da derrota nas legislativas e ficar com o Governo, vai tentar por todos os meios mantê-lo.
E isso implica com um orçamento escasso e dentro das regras do Semestre Europeu e do Tratado Orçamental tenha que acomodar as promessas feitas, numa conjuntura económica que acaba por ser basicamente dependente da manutenção da política de recompras do Banco Central Europeu.
Mas nesta área económica, se o excesso da austeridade parece não ter realizado nenhum dos objetivos pretendidos, a abertura de Costa às políticas sociais democratas podem verdadeiramente beneficiar do balão de oxigénio da tensão antiterrorista na Europa.
Como aconteceu na primeira república, o equilíbrio orçamental conseguido em 2014 foi rapidamente substituído por investimento público nas Forças Armadas, financiado por crédito bancário externo que até então estava também cortado. De mesmo modo agora, o alinhamento na guerra contra o ISIS vai facilitar maior tolerância orçamental por parte de Bruxelas e maior abertura da banca.
Acresce que as áreas de crescimento, como turismo continuarão a beneficiar da desestabilização no Médio Oriente e sobretudo do ambiente antiterrorista em Itália, França e Espanha.
Direita vai ter que apoiar na questão militar
Um bónus adicional pode também ser o facto do PCP e do BE em face da radicalização criada por Passos Coelho na criação deste XXI governo acabar por obrigar os partidos da esquerda radical a sujeitarem-se às decisões do PS.
A área de conflito mais provável será não a economia ou as finanças, onde seguramente António Costa conseguirá arrancar acordos ao BE e ao PCP, mas na área militar e de defesa, com o tensão com a Rússia e o combate ao Estado islâmico. Nestas áreas que farão a agenda do próximo ano o BE e o PCP terão dificuldade em envolver o País numa guerra que será decisiva para o cumprimento dos nossos compromissos internacionais, mas sobretudo para assegurar a participação no “saque” depois da guerra. E por muito neutral que seja para já o posicionamento do PS, este alinhará pelo diapasão europeu ao lado dos americanos e contra o ISIS e num segundo momento, contra Moscovo também.
A iniciativa ingénua do presidente Hollande, de tentar juntar Russos e Americanos num comando conjunto, faz lembrar a República de Vichy e o seu colaboracionismo com Hitler, para garantir a sobrevivência na Segunda Guerra mundial.
A Alemanha ficará do lado americano e Portugal com António Costa alinhará também do lado da aliança ocidental, mesmo contra o PCP e o BE.
Só que neste particular, por maiores que sejam as ameaças de Passos Coelho que o PSD não apoiará o Governo PS, seria incompreensível que houvesse alguma dúvida. Por isso, nesta única questão crítica à direita, o PS contará necessariamente com o apoio da direita.
Composição do XXI Governo Constitucional
Primeiro-ministro – António Costa
Ministros (17)
Ministro dos Negócios Estrangeiros – Augusto Santos Silva
Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa – Maria Manuel Leitão Marques
Ministro das Finanças – Mário Centeno
Ministro da Defesa Nacional – José Alberto Azeredo Lopes
Ministra da Administração Interna – Constança Urbano de Sousa
Ministra da Justiça – Francisca Van Dunem
Ministro-Adjunto – Eduardo Cabrita
Ministro da Cultura – João Soares
Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – Manuel Heitor
Ministro da Educação – Tiago Brandão Rodrigues
Ministro do trabalho, Solidariedade e Segurança Social – José António Vieira da Silva
Ministro da Saúde – Adalberto Campos Fernandes
Ministro do Planeamento e das Infraestruturas – Pedro Marques
Ministro da Economia – Manuel Caldeira Cabral
Ministro do Ambiente – João Pedro Matos Fernandes
Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural – Luís Capoulas Santos
Ministra do Mar – Ana Paula Vitorino
Secretários de Estado (41)
Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares – Pedro Nuno Santos
Secretária de Estado Adjunta do Primeiro-Ministro – Mariana Vieira da Silva
Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros – Miguel Prata Roque
Secretária de Estado dos Assuntos Europeus – Margarida Marques
Secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação – Teresa Ribeiro
Secretário de Estado das Comunidades – José Luís Carneiro
Secretário de Estado da Internacionalização – Jorge Oliveira
Secretária de Estado da Modernização Administrativa – Graça Fonseca
Secretário de Estado Adjunto, do Tesouro e das Finanças – Ricardo Mourinho Félix
Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais – Fernando Rocha Andrade
Secretário de Estado do Orçamento – João Leão
Secretária de Estado da Administração e do Emprego Público – Carolina Ferra
Secretário de Estado da Defesa – Marcos Perestrello
Secretária de Estado Adjunta e da Administração Interna – Isabel Oneto
Secretário de Estado da Administração Interna – Jorge Gomes
Secretária de Estado Adjunta e da Justiça – Helena Mesquita Ribeiro
Secretária de Estado da Justiça – Anabela Pedroso
Secretário de Estado das Autarquias Locais – Carlos Miguel
Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade – Catarina Marcelino
Secretária de Estado da Cultura – Isabel Botelho Leal
Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – Maria Fernanda Rollo
Secretária de Estado Adjunta e da Educação – Alexandra Leitão
Secretário de Estado da Educação – João Costa
Secretário de Estado da Juventude e do Desporto – João Wengorovius Meneses
Secretário de Estado do Emprego – Miguel Cabrita
Secretária de Estado da Segurança Social – Cláudia Joaquim
Secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência – Ana Sofia Antunes
Secretário de Estado Adjunto da Saúde – Fernando Araújo
Secretário de Estado da Saúde – Manuel Delgado
Secretário de Estado do Desenvolvimento e Coesão – Nelson de Souza
Secretário de Estado das Infraestruturas – Guilherme W. d’Oliveira Martins
Secretário de Estado Adjunto e do Comércio – Paulo Ferreira
Secretário de Estado da Indústria – João Vasconcelos
Secretária de Estado do Turismo – Ana Mendes Godinho
Secretário de Estado da Energia – Jorge Seguro
Secretário de Estado Adjunto e do Ambiente – José Mendes
Secretário de Estado do Ambiente – Carlos Martins
Secretária de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza – Célia Ramos
Secretário de Estado da Agricultura e Alimentação – Luís Medeiros Vieira
Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural – Amândio Torres
Secretário de Estado das Pescas – José Apolinário