Em Março de 2014, três meses antes da decisão da Resolução, Ricardo Salgado escreveu uma carta ao governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, onde o ex-presidente do BES defendia a manutenção do Conselho de Administração do banco, de forma a garantir o plano estratégico, que englobava o aumento de capital de mil milhões de euros.
Segundo Ricardo Salgado, esse “aumento de capital ficaria prejudicado por alguns factores, tais como o facto de 10% do capital social do BES ser detido por clientes private, nacionais e internacionais, de retalho e empresas, que, perante o afastamento dos accionistas de referência, tenderiam a alienar as suas acções”.
Investidores institucionais da área internacional, com relações de confiança com a liderança do banco eram, na altura, o banco brasileiro Bradesco (4% das acções), a Portugal Telecom (2%), Schilschester (4,4%) e os fundos de private equity norte-americano Blackrock (5%) e Capital Fund 5% . Os tais que, segundo Salgado, poderiam ter um reflexo de afastamento perante o inesperado da situação.
O antigo líder do BES alerta ainda o governador do Banco de Portugal para as consequências da mudança de governance: a impossibilidade de realização da operação de crédito com o Deutsche Bank e o Nomura, no valor de 300 a 400 milhões de euros e a impossibilidade do investimento de 200 milhões de euros do Fundo Tyrus e de outros investidores institucionais na Rio Forte, a holding do Grupo Espírito Santo e de 300 milhões de um investidor residente na Suiça na Espírito Santo Irmãos/ESFG, uma das subholdings financeiras do grupo-
Ricardo Salgado informa ainda o Banco de Portugal que as conversações mantidas com Xavier Musca, do Crédit Agricole, permitiram a dissolução da Bespar, a holding que controlava o grupo financeiro liderado pelo BES e onde a família Espírito Santo e os seus parceiro cruzavam interesses com os franceses do Crédit Agrícole, em Abril de 2014, mantendo-se o Crédit Agricole com uma participação directa de 20% no capital do BES e com a garantia de que, num futuro próximo, se manteria próxima dos 10%.
Veja Aqui a carta de Ricardo Salgado a Carlos Costa.