O PSD está muito agitado com as recentes declarações de Marcelo sobre a possibilidade de António Costa formar um governo. A hipótese de um candidato aparecer à direita, com o apoio da máquina do PSD, existe, sobretudo com a viragem à esquerda do professor de Direito.
Marcelo Rebelo de Sousa tem dois problemas e corre agora dois riscos maiores. Em primeiro lugar, a sua pré-candidatura tem-se mostrado pouco profissional (apesar de estar a ser tratada pelos assessores da Fundação Champalimaud e Universidade Europeia), optando o candidato pelo contacto directo, uma estratégia antes seguida por Paulo Portas, em 2011, e que apenas lhe deu menos de 8% dos votos.
Marcelo Rebelo de Sousa tem dispensado a estrutura do PSD, mas não tem conseguido implantar no terreno uma estrutura alternativa e os seus escassos apoios não têm experiência operacional, para montar uma estrutura dessas.
Sem grandes recursos financeiros, uma campanha barata feita nas redes sociais pode não bastar, também sobretudo se outros aparecerem com mais meios.
Em segundo lugar, Marcelo está com um problema de discurso: apesar de há três décadas fazer comentário televisivo, as opiniões de Marcelo Rebelo de Sousa são desconhecidas sobre o que pretende para o País. E a primeira vez que se pronunciou sobre os poderes do Presidente da República foi no sentido de dizer que dava posse a um governo de esquerda, apoiado em partidos antieuropeus e anti-NATO, numa clara clivagem com a coligação PSD-CDS e contrária à opinião de Cavaco Silva, de Pedro Passos Coelho e de Pedro Santana Lopes. O discurso está, portanto, desajustado da realidade política e nem se poderá dizer que “com a direita no bolso”, Marcelo parte à conquista do centro, porquanto a radicalização do discurso político partidário fez desaparecer o centro e criou uma enorme crispação entre a direita e a esquerda.
O regresso do simplismo das ideologias e do discurso sectário e radical dos dois lados é um fenómeno que inaugura um novo ciclo político, antecipado por António Costa e Passos Coelho, no rescaldo das últimas legislativas, que surpreendentemente o conhecido comentador não soube entender. Foi o único que não percebeu que tudo mudou e que o seu discurso pode estar absolutamente ligado ao ciclo passado e não à realidade actual portuguesa.
Por outro lado, Marcelo corre dois riscos grandes: o nervosismo do PSD com o seu posicionamento está neste momento a criar espaço para o surgimento de uma candidatura do centro-direita e, por outro lado, Belém e Cavaco Silva não considerarão o popular comentador político adequado para o lugar.
Acresce ainda que, do mesmo modo que Pedro Santana Lopes foi indigitado, em 2005, primeiro-ministro por Jorge Sampaio, para dar tempo para que José Sócrates fosse eleito líder do PS, depois do Processo Casa Pia, e instalado no poder criasse condições para a eleição presidencial de Cavaco Silva, também agora um governo de iniciativa presidencial, mesmo em gestão, que dê tempo para a substituição de António Costa no PS e mesmo Passos Coelho no PSD, pode abrir caminho para um Bloco Central e criar condições para a eleição de um Presidente da República mais adequado ao actual ciclo político, que não precipite desnecessariamente o País em eleições em Junho que vem.
Mas esse cenário pode nem se colocar. A possibilidade de Santana Lopes ou de Durão Barroso poderem ainda aparecer na corrida presidencial existe até 24 de Dezembro, data em que os candidatos têm que ter apresentado as candidaturas no Tribunal Constitucional. E quer Santana Lopes, quer Durão Barroso, já deram a entender que não patrocinariam um governo minoritário de Costa, ao contrário de Marcelo Rebelo de Sousa. Porém, curiosamente, ambos, com um posicionamento claro à direita, mantêm excelentes relações no PS, tendo mesmo António Costa admitido já em entrevista que o candidato da direita acabará por ser Santana Lopes.
Com ou sem desistência de Marcelo Rebelo de Sousa, a falar para um centro que não existe na política nacional, o aparecimento de um candidato à direita com forte apoio da máquina do PSD forçaria a uma segunda volta nas presidenciais, excluindo eventualmente Sampaio da Nóvoa (com menos máquina que Belém) e Marcelo Rebelo de Sousa.
Subitamente, as presidenciais passaram a estar ligadas às legislativas e ao destino do governo e dos líderes partidários, numa renovação do ciclo político só comparável ao efeito político do Processo Casa Pia, em 2006.