Belém prefere uma grande coligação com o PS e Passos deverá convidar Costa para negociações

O Presidente da República só empossará um governo minoritário depois de esgotadas todas as hipóteses de formação de um governo de Bloco Central, que envolva a coligação Portugal à Frente e o Partido Socialista (PS), como acontece com grande parte dos governos europeus.

Para Belém a fratura no país político far-se-á entre os partidos que defendem a NATO, o Euro e a Europa, e os partidos políticos que querem a saída da NATO, do Euro e da Europa.

Recorde-se que não existe nenhum timing constitucional para a formação de um Governo e que entre dar posse a um Governo minoritário que depois cai no Parlamento e depois fica em gestão, será preferível manter o atual executivo em gestão. Daqui decorre que a exigência presidencial pode fazer com que o novo Governo não seja empossado nas próximas semanas, mas que se mantenha atual situação até um acordo entre o PSD e PS seja possível. Belém não põe como condição a inclusão do CDS/PP num desses Governos, mas do lado do PSD haverá todo o interesse em manter a relação com o CDS/PP. Poderemos estar no início de um longo processo negocial.

Note-se, a maioria pró-europeia tem mais de 70% dos votos do Parlamento e deve garantir um governo estável. Porém, Belém gostaria de acelerar as negociações antes mesmo de que se precipite a crise dentro do PS.

A análise feita é que o próprio PS terá toda a vantagem em entrar agora numa coligação para sobreviver. De fora, se votar o programa do governo, o Orçamento de Estado suplementar de 2015, ou o Orçamento de Estado para 2016, perderá sempre votos à esquerda para o Bloco de Esquerda. Por outro lado, se votar contra a coligação perderá definitivamente o centro e assistiremos a uma fragmentação do PS, que num horizonte de uma legislatura poderá desaparecer. A própria sobrevivência de Costa como líder do PS pode depender desta coligação.

Por isso António Costa e o PS têm toda a vantagem a integrar a coligação e garantir uma saída de estabilidade, defende Belém, enquanto o PSD terá que mudar substancialmente a sua estratégia, de modo a acomodar as exigências sociais e as condições orçamentais que António Costa anunciou na noite eleitoral.

Todas as notícias colocadas nos jornais sobre o próximo governo são puras especulações.

O presidente do PSD e primeiro-ministro em exercício não se debruçará sobre o novo governo antes de falar com o Presidente da República e só depois apresentará ao partido a estratégia a seguir ao PSD, na Comissão Política agendada para amanhã.

Da mesma forma, também o avanço de Marcelo Rebelo de Sousa para as presidenciais e sobretudo a possibilidade de ter o apoio do PSD dependem totalmente da evolução do governo e da hipótese de uma grande coligação, que poderá exigir a neutralidade do PSD, de modo a viabilizar a eleição de um Presidente da República mais consensual com o PS. Neste caso, e mesmo depois de se ter afastado, Santana Lopes poderá ser forçado a reconsiderar a sua posição, levando Marcelo Rebelo de Sousa a desistir. Do lado socialista António Guterres poderá ser uma opção consensual. Nas grandes nomeações, uma vez que o PSD indicará o primeiro-ministro e recentemente reconduziu o Governador do BP o PS em caso de coligação poderá indicar o presidente da AR, (podendo ser o próprio Costa) e a presidência da Caixa Geral de Depósitos.

Este será o maior desafio estratégico de António Costa e Pedro Passos Coelho poderá mesmo anunciar, já amanhã, o convite ao PS para iniciar negociações com vista à formação do novo governo.