O La Caixa pretende manter-se como maior accionista do BPI, entendendo que esta é uma participação estratégica para os seus interesses na Península Ibérica, sabe o CONFIDENCIAL. O banco catalão espera, no entanto, que a venda da totalidade, ou de uma parte da posição do BPI no Banco de Fomento Angola (BFA), a interesses ligados à empresária angolana Isabel dos Santos, lhe permita levantar a cláusula estatutária que limita a 20% os direitos de voto de cada accionista no BPI. O La Caixa detém 44,1% do capital do BPI e já tentou por várias vezes fazer converter este peso em direitos de voto, o que lhe daria o controlo do BPI, mas a pretensão foi sempre vetada pelos restantes accionistas do banco.
O objectivo do La Caixa é ceder a maioria do BFA por troca com a capacidade de controlar o BPI, fazendo valer todas as suas acções e sem a limitação dos direitos de voto. As negociações entre catalães e Isabel dos Santos já decorrem nos bastidores. Alguns dos fundos e investidores institucionais do BPI darão o seu apoio à solução.
Além de accionista angolana do BFA, por via da Unitel, Isabel dos Santos é também a segunda maior accionista do BPI, através da Santoro Finance, que detém cerca de 18,6% do capital. O terceiro grupo de accionistas é composto por um núcleo de empresários do Norte, ligados à fundação do banco, liderados pela família Violas, que detém 2,6% do capital e é o maior accionista português.
BNA veta solução não angolana para o BFA
O futuro do BPI está suspenso desde o fracasso da OPA que o La Caixa lançou, no início do ano, sobre a totalidade do capital do banco. A operação não convenceu os restantes accionistas, levando os catalães a retirarem a oferta. Como alternativa, Isabel dos Santos chegou a propor uma fusão do BPI com o rival BCP, mas também esta solução acabaria por cair.
Como o CONFIDENCIAL referiu há 15 dias, Isabel dos Santos aposta agora no reforço da sua posição no BFA. No BFA, o BPI controla 50,1% do capital e os restantes 49,9% são da telecom angolana Unitel, da qual Isabel dos Santos é a accionista de referência, com uma posição de 25%.
Por troca com a posição do BPI no BFA, Isabel dos Santos poderia ceder a sua posição no banco português, o que abriria portas a uma futura integração do BPI no La Caixa, concretizando o objectivo do presidente do banco catalão quando lançou a OPA.
O BPI vai ter de diminuir ou vender a sua posição no BFA, pois o facto de controlar a maioria obriga a reflectir nas suas contas a totalidade dos riscos de exposição a Angola, quer directamente ao BFA, quer indirectamente através das aplicações em dívida pública angolana. Na impossibilidade de cobrir estes riscos com um aumento de capital pesado, cumprindo as novas exigências do Banco Central Europeu (BCE), a solução passará pela alienação da totalidade ou de parte da posição, reduzindo-a abaixo dos 50% e evitando a integração a 100% nas suas contas dos riscos de exposição a Angola.
No primeiro semestre, quase 90% dos resultados líquidos do BPI foram gerados no BFA, o que levanta o problema da rendibilidade do banco. Mas o certo é que nenhum dos accionistas de referência está disposto a aprovar um aumento do capital no montante elevadíssimo necessário para cobrir a exposição do risco a Angola. O que obriga à venda de parte da posição no banco angolano até ao fecho do exercício, no último dia do ano.
Ulrich de saída?
A notícia de que a administração do BPI mandatou dois bancos internacionais (um deles o poderoso Goldman Sachs) para encontrar um comprador para o BFA, libertada no início da semana, incomodou as autoridades angolanas.
O Banco Nacional de Angola já terá informado o presidente do banco, Fernando Ulrich, que não aprovará a venda a accionistas não angolanos, o que, na prática, limita o leque de compradores a Isabel dos Santos.
O desenrolar dos acontecimentos está a esfriar as relações entre Fernando Ulrich e os principais accionistas do BPI, podendo levar à saída a prazo do presidente executivo e dos seus fiéis no Conselho de Administração. Ulrich tem garantido que o controlo operacional do banco se mantenha na gestão, devido à limitação dos direitos de voto, e gostaria de manter o status quo.
Como alternativa à solução La Caixa, Fernando Ulrich aposta na saída dos catalães e na entrada de novos accionistas, mais alinhados com a independência da administração. A solução, neste caso, poderia passar por cativar um dos candidatos derrotados na corrida ao Novo Banco. O CONFIDENCIAL ouviu que já terão sido feitos contactos com os americanos da Apollo, que precisam de um parceiro bancário para manter a operação de seguros da Tranquilidade.