A revisão que a China está a fazer do seu modelo de ajuda ao desenvolvimento deverá reforçar a articulação com entidades multilaterais, mantendo como centrais os empréstimos preferenciais para infra-estruturas, de acordo com uma análise da Brookings Institution.
Yun Sun, analista da Brookings, que tem estudado o papel de África na diplomacia chinesa, refere que os empréstimos com condições preferenciais ou bonificados, semelhantes aos que têm sido concedidos a Angola e Moçambique, são já a maior componente da ajuda externa chinesa, representando quase 56% do investimento total, entre 2010 e 2012.
Em relação a África, no “futuro próximo o grosso da ajuda deverá ser concedida através de empréstimos preferenciais, que juntamente com a ajuda ao desenvolvimento representam um conjunto de recursos financeiros altamente valiosos para as vastas necessidades de desenvolvimento de infra-estruturas”, explica a análise.
O Ministério chinês das Relações Exteriores deverá divulgar nos próximos meses um conjunto de linhas orientadoras para a ajuda externa, por forma a enquadrar o elevado crescimento de montantes esperado nos próximos anos, em linha com o registado no passado recente.
Entre 2010 e 2012, a ajuda concedida pela China atingiu 90 mil milhões de yuan, quase um terço do total desde 1949, assumindo-se como uma “formidável alternativa à ajuda ocidental”, segundo Yun Sun.
Alguns analistas na China vêm vindo a defender uma redução do peso de empréstimos preferenciais e dos projectos de infra-estruturas, mas tal parece chocar com as actuais prioridades do governo chinês, que passam pelo estabelecimento de ligações, nomeadamente no eixo da chamada “Nova Rota da Seda.”
Yun Sun adiantou que nos próximos anos os empréstimos preferenciais para infra-estruturas “vão ser considerados de forma favorável na ajuda externa chinesa.”
Em África, Angola e Moçambique estão entre os principais beneficiários destes empréstimos – a China já é o maior credor bilateral de Moçambique, depois de ter aumentado em 160%, desde 2012, o financiamento a este país, onde estão a ser preparados importantes investimentos com capital chinês.
Com um novo empréstimo de 400 milhões de dólares anunciado no mês passado, o peso do financiamento da China a Moçambique deverá crescer quase 50%, face aos valores actuais do crédito bilateral concedido.
O novo empréstimo destina-se à construção de uma linha de transmissão eléctrica de 600 quilómetros, entre as províncias moçambicanas de Zambézia e Nampula, segundo informações avançadas pelo governo moçambicano.
No caso de Angola, os dois países estabeleceram em 2010 uma parceria estratégica, com a China a fornecer linhas de crédito e Angola a pagar com petróleo, que fez com que o comércio bilateral aumentasse mais de 2000% entre 2002 e 2012.
O nível de apoio a Angola foi de tal ordem, e o regime de ajuda tão eficaz, que acabou por ser alargado a outros países com o nome de “Modelo Angola” – acordos de financiamento com baixas taxas de juro para os países africanos, garantidos com o fornecimento de matérias-primas.
Para os países africanos, este apoio surgiu numa altura em que tinham grande dificuldade em aceder a financiamento.
O orçamento de ajuda externa chinês suporta a diferença entre os juros de mercado e o juro bonificado sobre os empréstimos, o suficiente para aumentar a procura deste financiamento, que também assegura contractos para empresas chinesas e ajuda a assegurar recursos naturais, afirma o analista da Brookings, instituição privada norte-americana.
Yun Sun afirmou ainda que o futuro do apoio chinês passará também por maior financiamento multilateral, com iniciativas conjuntas do Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas, liderado pela China, com o Banco Mundial e Banco de Desenvolvimento Asiático.