Governo dará cobertura política a adiamento da venda

O primeiro-ministro já informou o governador do Banco de Portugal de que terá cobertura política caso decida adiar a venda do Novo Banco, um cenário que ganhou força, no início da semana, depois de conhecidos os valores das propostas, muito aquém do esperado. A melhor

O governo entende que o risco político de um adiamento da venda é consideravelmente menor do que o de uma má venda, e Pedro Passos Coelho terá já confidenciado junto dos seus próximos que está disposto a trocar tempo por um melhor valor de venda. Até porque o prejuízo na venda do Novo Banco, resultante da diferença entre os 4,9 mil milhões injectados pelo Tesouro e pelo Fundo de Resolução e o valor da venda, impactará negativamente os resultados dos grandes bancos (incluindo a CGD), numa altura em que eles estarão sujeitos a novos testes de stress por parte do Banco Central Europeu (BCE), além de que terá de ser parcialmente reportado nas contas públicas de 2014, relançando o debate sobre o controlo do défice e os resultados económicos da legislatura. Um trunfo que o Governo não quer dar à oposição.

A recusa em vender a baixo preço reforçará ainda a imagem de Pedro Passos Coelho como um político com coragem para tomar decisões difíceis em defesa do interesse nacional. Uma imagem que lhe está a trazer dividendos políticos.

 

Para já, calendário mantém-se

Para já, o calendário de venda mantém-se, apontando para o anúncio formal do novo dono do Novo Banco, na última semana do mês. Ontem, o Banco de Portugal anunciou que irá iniciar negociações exclusivas com os chineses da Anbang.

O grupo chinês fez a melhor oferta, por um valor não oficialmente confirmado entre os 4,0 e os 4,2 mil milhões de euros, dos quais 1500 milhões para recapitalizar o banco. O que, na prática, representará uma perda líquida entre 2,4 e 2,2 milhões, considerada excessiva pelo governo. Nas negociações, mais do que a revisão do valor, o banco central tentará que os chineses acordem numa solução que, a prazo, alivie o Fundo de Resolução e os bancos destas perdas.

Dos 4900 milhões de euros injectados na Resolução do BES/Novo Banco, 3,9 mil milhões correspondem a um empréstimo do Tesouro, 700 milhões vieram do Fundo de Resolução (banca) e o restante foi obtido com a contribuição especial paga pelo sector.

O banco central mantém sob reserva os norte-americanos do Fundo Apolo, donos da Tranquilidade, que poderão ser repescado para uma segunda ronda negocial, caso a Anbang não melhore a sua oferta. Os americanos foram aliás o único dos interessados que melhoraram a sua proposta nesta fase do processo, acenando com o reembolso dos fundos do Fundo de Resolução através da dispersão em bolsa de acções do Novo Banco, minimizando assim o impacto para o sector bancário e o risco para o Estado.

De fora ficam apenas os também chineses Fosun que controlam a Fidelidade e a Luz Saúde. Como O CONFIDENCIAL adiantou, a 20 de Maio, a Fosun foi travada pelo Comité Central do Partido Comunista Chinês. A cúpula dos dirigentes de Pequim está preocupada com a dimensão e o protagonismo excessivos da Fosun e o escândalo de corrupção que ontem rebentou veio confirmar as desconfianças chinesas.

Seja como for, a venda do Novo Banco terá de ocorrer ainda antes de terminado o ano, de forma a não afectar o défice público de 2014. O Eurostat, organismo estatístico da União Europeia, já terá informado Lisboa de que o impacto da venda com prejuízo do banco, face aos 4900 milhões de euros de apoios recebidos, terá sempre de ser reflectido nas contas, com efeito directo no agravamento do défice.