Ramalho escondeu imparidades relativas ao negócio em Espanha

António Ramalho apresenta dois novos pretextos para justificar o desastre da gestão do Novo Banco. O primeiro, a pandemia, que está agora na moda gerou cerca de 190 milhões de euros em riscos de crédito.

O segundo, foram as provisões  de 727 milhões de euros de imparidades e provisões em resultado da descontinuação do negócio em Espanha. Todavia, António Ramalho  não especifica as imparidades destinadas à descontinuação do negócio no país vizinho, avançou o JN.

Segundo o JE, “a venda da sucursal em Espanha estava prevista no plano de negócios do Novo Banco e é um dos objetivos de desinvestimento da instituição. Mas não faz parte de nenhum compromisso assumido com o Fundo de Resolução, para compensar a injeção dos 1.037 milhões de euros este ano ao abrigo do mecanismo de capital contingente que cobriu as perdas com determinados ativos, registadas em 2019.

No entanto, se o Novo Banco vender ativos reduz os ativos ponderados pelo risco inerentes ao rácio de capital, e por essa via melhora os rácios, ajudando indiretamente o Fundo de Resolução, na medida em que diminui as necessidades de injeções futuras.

Citando fontes financeiras, anunciou que  a Lone Star iria vender a sucursal para compensar a ajuda estatal. O fundo norte-americano decidiu sondar a venda da sua filial espanhola após o último auxílio público recebido pela controladora em Portugal. O El Confidencial diz ainda que a decisão foi comunicada pelo presidente do grupo português, António Ramalho, aos funcionários da subsidiária nos últimos dias.“

A isto acresce a venda massiva de ativos imobiliários ao desbarato e coma conivência do Banco de Portugal, os responsáveis do Novo Banco, liderados por António Ramalho, desenvolveram desde o início uma política de “fire sale” com o património do Banco. Aliás, tal como a Apolo fez na Tranquilidade, alienando importantes referências imobiliárias a preço de saldo.

É importante referir que a  Lone Star tem representantes nos conselhos de crédito e comités de risco, mais, substituiu toda a equipa dirigente do departamento imobiliário por colaboradores diretos. Mais preocupante, é alienação de património imobiliário de segunda linha com descontos de 30% face à última avaliação.

Até Byron Haines, chairman do Novo Banco, “fez uma perninha na negociata” ao espoletar uma perda de cerca de 330 milhões de euros com a alienação de 195 imóveis ao Fundo Cerberus, instituição que liderava antes de chegar ao Novo Banco.

“Firesale” dos ativos 

António Ramalho justificou as operações de alienação de património, com descontos que ascendem a cerca de 75%, como essenciais, uma vez que o património imobiliário “herdado” do Banco Espírito Santo seria de “má qualidade, velho e ilegal”. É certo que nos anos de 2007 e 2008 houve um crescimento no património imobiliário devido à crise e, provenientes maioritariamente do segmento habitacional. 

Segundo especialistas do mercado e após uma análise ao património “herdado” do BES, chegaram à conclusão que o banco apresentava a melhor carteira de ativos imobiliários em comparação com os seus congéneres nacionais. Numa análise a 100 imóveis, em vários pontos do País, o valor do património ascendia a cerca de 700 milhões de euros entre 2009 e 2017. 

Fora da análise ficou o Loteamento Aprovado que passou a integrar o Fundo Amoreiras, com 133168 m2 acima do solo, tendo sido adquirido pelo BES em hasta pública pela alienação do Quartel da Artilharia 1. Os títulos do Fundo que detêm o projecto a Artilharia 1, eram privados e só foram transferidos para o Novo Banco em 2015.

Cerca de 20% do património do BES encontrava-se fixado acima dos 3 milhões de euros e a maioria localizados em áreas “Premium”, o que desmente categoricamente as declarações de António Ramalho relativas à qualidade do património herdado do BES.

Por outro lado, o incremento do valor no segmento industrial, revela a aposta do BES no financiamento do tecido empresarial, que obviamente acabou por impactar nas contas do banco, tal como está demonstrado no documento em anexo, o reflexo da colaterização de contratos afetos a grandes áreas comercias e industriais.

Na realidade a principal razão para a alienação com grandes descontos, provém das instruções da Lone Star em maximizar o provisionamento, de forma a utilizar o maior valor possível da Garantia contratada com o Fundo de Resolução. Em termos teóricos, a recuperação futura de créditos já provisionados, reverterá para o Fundo de Resolução, contudo, o dinheiro, entretanto, já está do lado do Banco. Assim sendo, e uma vez que a responsabilidade da recuperação de crédito está do lado do Fundo de Resolução, o Novo Banco pouco ou nada fará para recuperar o capital.

A maior parte da estratégia de recuperação, assentaria no esforço de apoio ao “turnaround” de empresas consideradas viáveis, mas com algumas dificuldades de tesouraria. Todavia, o que ficou claro, é que o Lone Star, beneficiário da garantia do Fundo Resolução, não está interessado em disponibilizar novos apoios, a menos que sejam obrigados pela tutela. 

O resultado desta estratégia é o agravamento da situação das empresas que sempre contaram com o apoio do banco, o aumento das imparidades e mais entradas de capital por parte do Fundo de Resolução. “Temos de vender o imobiliário antes de termos de o provisionar”, afirmou ao Eco António Ramalho.