O grupo Europe of Nations and Freedom (ENF) foi criado em 2015 no Parlamento Europeu, por iniciativa dos partidos eurocépticos e anti-imigração, incluindo a Frente Nacional, de Marine Le Pen, a italiana Lega Nord, o Vlaams Belang da Bélgica, o Freedom Party of Austria e do Geert Wilders Party for Freedom. Marta Lorimer disse, na primeira Convenção do ENF, que decorreu em Janeiro, em Milão, que, embora as ideias expressas pareçam pouco inovadoras, elas são genuinamente novas em termos de conteúdo. A convenção ilustra a medida em que as facções de extrema-direita do espectro político estão dispostas a cooperar relativamente à sua oposição quanto ao futuro da UE.
A 28 e 29 de Janeiro, os líderes dos partidos que integram o ENF reuniram-se em Milão. Foi a primeira vez que o ENF, composto pelos mais proeminentes líderes da extrema-direita europeia, se reuniu fora de Estrasburgo. Sob o slogan “Freer, stronger: another Europe is possible”, Marine Le Pen (Frente Nacional, França), Matteo Salvini (Lega Nord, Itália), Heinz-Christian Strache (Freiheitliche Partei Österreichs, Áustria), Tom Van Grieken (Vlaams Belang, Bélgica) e Geert Wilders (Partij voor de Vrijheid, Holanda), entre outros, apresentaram o seu projecto para uma Europa diferente.
Os problemas: Schengen, islamismo e a UE
Talvez sem surpresa, a crise migratória dominou a agenda. Os vários membros do ENF previram (e congratularam-se com) a “morte de Schengen” e o retorno necessário aos controlos nas fronteiras. Na sequência dos ataques em Paris e Colónia, em particular, a abertura das fronteiras foi apresentada como um perigo para os valores democráticos ocidentais e como uma fonte de inquietação para os povos da Europa. Durante a conferência, Schengen foi acusado de colocar os europeus uns contra os outros, traindo, assim, o espírito original da cooperação europeia, que foi concebida para promover a paz entre os seus povos.
Intimamente ligada à crise de migração, vários líderes abordaram a “ameaça islâmica”. Seguindo uma tendência cada vez mais comum entre a extrema-direita europeia (e não só), o Islão foi apresentado como incompatível e de facto perigoso para as democracias ocidentais. Nenhum líder insistiu neste ponto, tanto quanto Geert Wilders, que durante anos afirmou que wahabismo e salafismo não são compatíveis com a liberdade e representam uma “ameaça existencial” para a civilização ocidental.
O italiano Salvini, no mesmo sentido, sugeriu que a interpretação “fanática” do Alcorão é “incompatível” com direitos na Europa Ocidental.
Islão e migração, no entanto, não seriam problemas se não fossem os verdadeiros responsáveis da crise da Europa: a UE e as classes políticas nacionais, que não conseguem justificar Bruxelas. Acusada de “incompetência” e “politicamente correcta”, por Van Krieken, a União Europeia foi criticada em todas as frentes, desde a sua participação nos bailouts dos países com problemas de dívida, à criação do euro e à introdução de Schengen.
A solução: fim de Schengen, menos UE e o retorno à soberania nacional
Concretamente, o que emergiu das várias intervenções foi a ideia de que se a Europa quiser ter um futuro, a UE terá que mudar radicalmente. Caso contrário, desaparecerá. Os políticos do ENF defendem um retorno ao que, nas suas opiniões, foi o espírito inicial da Europa: um projecto de colaboração em nome da paz e da prosperidade, onde os povos soberanos poderiam decidir cooperar em determinados projectos e não serem obrigados a colaborar “à força” imposta por Bruxelas.
A extrema-direita sugere que este objectivo não está fora do alcance, e que há boas razões para esperar que a mudança está ao virar da esquina. Em primeiro lugar, a crise migratória pode levar à reintrodução de controlos nas fronteiras e à limitação das entradas provenientes de países não pertencentes à UE. Em segundo lugar, expressaram uma confiança firme no facto de que “o povo”, vendo que a UE não funciona, começará a revoltar-se contra as elites e iniciará uma “revolução democrática”, que derrubará o velho sistema e permitirá um retorno ao status quo anterior. Em suma, uma “Primavera Patriótica”, destinada a criar uma nova Europa, com menos pedidos de asilo, controlos nas fronteiras e nações soberanas.
A (bem-sucedida) cooperação entre a extrema-direita?
Não há nada de novo no projecto do ENF. A maioria dos discursos, ainda que seja um ensaio de programas e intervenções regulares das partes, não adianta nada de genuinamente novo. O que parece mais impressionante é a sua vontade e capacidade de colaborar fora das instituições europeias. A cooperação transnacional dos partidos de extrema-direita não é inédita, mas nunca foi particularmente bem sucedida e raramente tem saído do Parlamento Europeu. A importância real da convenção não é efectivamente o que foi dito, mas o formato do encontro: uma convenção, com trocas de ideias e discursos, que se assemelha a um congresso de um normal partido europeu.
Pode ser muito cedo para se falar de um caso de sucesso na cooperação transnacional, mas o que a convenção mostrou é que o ENF, embora reconhecendo abertamente as diferenças entre os seus membros, parece ter convergido para um único objectivo. Tanto aqueles que defendem uma “Europa das Nações”, como a Frente Nacional francesa, como os defensores de uma “Europa das Regiões”, como o Vlaams Belang, parecem concordar na necessidade de recuperar a sua própria soberania e se opor ao modelo da Europa do alargamento. A palavra-chave a ser lembrada aqui é “diversidade”. A Europa, para eles, não é unidade: é sobre as diversas culturas e Nações da Europa que a UE está a tentar harmonizar e transformando-se gradualmente (na sua visão) num super-Estado unitário. Para proteger essa diversidade, os líderes dos partidos do grupo ENF estão prontos a deixar de lado as suas diferenças e juntar-se num projecto colectivo de destruir esta UE