Angolanos forçam venda da maioria à Unitel, Ulrich prepara banco gémeo

O BPI vai ser forçado pelo Banco Nacional de Angola (BNA) a ceder a maioria do capital do Banco de Fomento Angola (BFA) ao seu parceiro local, a operadora de telecomunicações Unitel, se quiser manter a sua operação bancária no país, garantiram ao CONFIDENCIAL.

A estratégia de Luanda para as joint-ventures na banca passa por garantir que o controlo accionista e a maioria dos membros do Conselho de Administração sejam angolanos.

A Unitel, controlada pela empresária Isabel dos Santos (filha do presidente angolano José Eduardo dos Santos), fez uma proposta para adquirir 10% do capital do BFA ao BPI, por 140 milhões de euros, passando a deter uma posição maioritária de 59,9% e reduzindo a posição do banco português a 40,1%. A proposta, que já foi recusada pelo presidente do BPI, implicaria que a Unitel ficasse com nove representantes no Conselho de Administração do BFA, incluindo o presidente, e o BPI com seis, invertendo a actual relação de forças entre accionistas.

A recusa de Fernando Ulrich azedou ainda mais as relações entre o ainda presidente do BPI e a accionista Isabel dos Santos.

De forma a evitar a consolidação do BFA e a consequente exposição ao risco do mercado angolano, que obrigaria o BPI a reforçar os seus rácios de capital num momento em que falta músculo financeiro aos seus accionistas, Fernando Ulrich avançou com um projecto de cisão simples, com o destaque de 50,01% detido no BFA, a que a Unitel se opôs, recusando autorizá-la.

A operação de cisão foi, entretanto, chumbada também pela CMVM, o regulador do mercado de capitais. Apesar do veto da CMVM e de estar informado da oposição da Unitel, Ulrich aprovou essa mesma cisão no Conselho de Administração, apresentando o seu projecto a registo na Conservatória do Registo Comercial, encontrando-se prevista para proximamente a convocação de uma Assembleia Geral para a sujeitar à decisão dos seus accionistas. A Unitel reiterou em carta, pela terceira vez, a sua não autorização à realização dessa operação.

Derrotado à partida, por não reunir a percentagem de votos necessária para aprovar a cisão, Fernando Ulrich já instruiu a sua equipa para preparar o arranque de um banco-gémeo do BFA, detido a 100% pelo BPI, para manter as suas operações em Angola, um mercado apetecível, que lhe garantiu mais de metade dos lucros nos últimos exercícios com resultados positivos. A concessão da nova licença bancária seria a contrapartida exigida ao BNA para a cedência da maioria do BFA à Unitel.

A estratégia de Ulrich passa por prolongar as negociações com o Banco Nacional de Angola e com a accionista Unitel, enquanto vai preparando o novo banco e a transferência das carteiras de clientes. As operações do actual BFA serão assim subdivididas entre o novo banco bom, com os activos bons e detido a 100% pelo BPI, e pelo BFA, transmutado numa espécie de banco mau, com as carteiras menos interessantes e os grandes problemas.