Apesar do regresso da política à agenda, a consolidação da banca portuguesa vai marcar o calendário político do próximo ano e a eventual aproximação do PSD ao PS.
Muitos cenários são possíveis para a política portuguesa, num ano em que a Europa vai estar mais focada em questões políticas e sociais, que económicas – depois da primavera grega ter mostrado que o euro não é uma moeda única, mas um sistema de moedas (vários euros) com taxas de câmbio fixas, e de, depois da crise dos refugiados do Verão, se ter posto fim a Schengen, com o reinstalar de controlos fronteiriços em muitos Estados-membros. Num ano em que ficará claro que o Brexit – cujas razões já nem existem e provavelmente nem o referendo de 2017 fará história – não é mais que o reflexo do medo de perdedores da Globalização e da Integração Europeia (em que o Reino Unido se inclui também). Num ano em que provavelmente também não veremos o início do processo de renegociação do pouco democrático Tratado de Lisboa, mas onde estaremos centrados nos processos de paz na Síria, Palestina, Ucrânia, Líbia, Mali, Nigéria, Moçambique, etc.
Na ordem interna portuguesa, começamos logo pela relativa estabilidade do governo minoritário de António Costa, aliás bem visível na crise orçamental da semana de Natal: enquanto Passos Coelho aposta tudo em que o governo PS cairá antes do Verão, do lado do primeiro-ministro, a gestão da crise depende do melhor momento para antecipar eleições, ganhando espaço não só ao centro mas, sobretudo, à área eleitoral do Bloco de Esquerda, que cresceu substancialmente nas últimas eleições à custa dos socialistas.
Esta é a principal tensão dentro do acordo de incidência parlamentar da esquerda e que António Costa vai gerir, apoiando-se na responsabilização do anterior governo da Coligação de direita, no consenso e pragmatismo (Cavaco dixit) europeu e, sobretudo, no próximo Presidente da República que, certamente, será Marcelo Rebelo de Sousa, eleito, à primeira volta, a 24 de Janeiro de 2016 e que tomará posse a 9 de Março de 2016.
Passos Coelho e Paulo Portas continuarão a sua descida às trevas em Fevereiro próximo, depois do PSD ter sido obrigado a abster-se no Orçamento Rectificativo/2015, para viabilizar a resolução e venda do Banif, numa degradação das suas imagens públicas pela inconsistência da oposição e incoerência do discurso, que a reeleição à frente do PSD e do CDS na Primavera de 2016 só poderá acentuar.
A falta de renovação das lideranças de direita serve como seguro de vida política, pelo menos por mais um ano, a António Costa que, com isso, aguentará o seu governo, com uma esquerda domesticada quando não houver alternativa à direita, embora crítica e até violenta em greves e discurso.
O Banif, depois de Passos Coelho ter viabilizado para reduzir culpas e evitar a liquidação, é apenas a primeira de algumas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), onde a governação da última legislatura da direita será escrutinada e seguramente não será nada tranquilizadora a tomada de consciência pública da forma como fomos governados.
Em Espanha, o consulado germanófilo de Raroy será também julgado, num mimetismo político ibérico, a demonstrar que as políticas ibéricas têm um ritmo parecido, porque se contaminam.
Mas, entretanto, haverá também o caso da reprivatização da TAP e a venda do Novo Banco, para além da catastrófica luta de poder interna do Millennium bcp, com o emergente Miguel Maia (que “tem morto” todos desde o tempo em que era um servil chefe de gabinete de Filipe Pinhal) a querer correr também com o actual presidente Nuno Amado – o Millennium bcp provavelmente será o próximo banco a ser resgatado, devido também a uma contabilidade fabricada. Esta luta precipitará certa e definitivamente a consolidação do sistema financeiro e o desaparecimento da grande banca nacional, a favor dos conglomerados dominados por capitais estrangeiros, ficando o Orçamento do Estado com o compromisso de pagar a irresponsável gestão dos bancos até lá e os efeitos da grande crise financeira de 2008.
Com tudo isto, apostamos que o primeiro-ministro António Costa fará os dois próximos Orçamentos do Estado – provavelmente o segundo já com o apoio da direita negociado por Marcelo Rebelo de Sousa, a fazer lembrar o Rectificativo de 2015 – e só entrará em rota perigosa no Verão de 2017, quando PSD e CDS já tiverem substituído as actuais lideranças – com uns, condenados ao esquecimento, e outros, com problemas com a justiça – e a esquerda já tiver garantido o que pretendia: a reversão das reprivatizações dos transportes, águas e resíduos e a nomeação de 5 a 10 mil quadros para a Administração Pública.
Marcelo Rebelo de Sousa chegará, neste ano de 2016, ao cúmulo da sua popularidade e aí ficará até ao Verão seguinte, provavelmente quando for chamado a marcar eleições gerais. Só as eventuais legislativas antecipadas de 2017 – com o cenário de Bloco Central com António Costa-Rui Rio a seguir, para garantir as reformas estruturais que não foram feitas – marcarão o começo do declínio do novo Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa, certamente, não quererá fazer um segundo mandato.
Nessa altura, José Manuel Durão Barroso continuará a liderar o influente grupo de Bilderberg e a fazer negócios e Pedro Santana Lopes será a hipótese mais provável do centro e da direita para suceder a Marcelo Rebelo de Sousa, depois de ter sabido esperar, em 2015, renovando o terceiro mandato na SCML ou optando eventualmente por avançar pela terceira vez para a CM de Lisboa. O governo terá que gerir também a escolha a partir do Verão de 2017.
Em 2021, António Costa poderá emergir como o candidato presidencial da esquerda, como Soares fez em 9 de Março de 1986, depois da experiência do Bloco Central. A História não se repete, mas tem seguramente momentos que são parecidos. A alternativa a António Costa em 2021 passará por Ferro Rodrigues ou Carlos César.