No PSD as movimentações para afastarem o presidente do Partido já estão em marcha, culpando Passos Coelho de perdido o poder, pensando apenas nele próprio, e de se ter deixado manipular por Paulo Portas. Sempre houve quem defendesse que a coligação com Portas deveria ter terminado no dia seguinte à queda do Governo, como queria Cavaco Silva, e que a estratégia de manter o confronto com a esquerda apenas humilhou o Presidente da República e facilitou a estratégia de António Costa, afastando incompreensivelmente o PSD da área do Poder.
Depois de obrigar Cavaco Silva a empossar António Costa, Passos Coelho queria manter a retórica do confronto e do acantonamento do PSD à direita. Para isso anunciou um congresso para os primeiros dias de Abril, ou seja, para quando o novo Presidente da República recuperar os poderes de dissolução da Assembleia da República (4 de Abril de 2016).
Realista, e sem mais margem de manobra, depois do recuo de Santana Lopes em Janeiro e da ocupação do espaço mediático por Marcelo Rebelo de Sousa, Passos Coelho deu na sexta-feira sinais de que no próximo dia 10 de Dezembro o PSD dará o apoio a Marcelo Rebelo de Sousa como seu único candidato presidencial. Uma decisão polémica dentro do PSD, sobretudo porque a maioria da estrutura pensa que o professor dificilmente dará posse a um governo de direita, que lhe reduziria a influencia política.
A estratégia de Passos Coelho passa por acreditar que António Costa não vai conseguir aguentar a pressão dos partidos radicais de esquerda e que, no máximo, o governo de esquerda durará um ano e que os estragos nas Finanças Publicas serão tais que o País irá de novo buscar Passos, como fez nos anos trinta com Salazar. Só que a conjuntura é completamente diferente e os partidos de esquerda aprenderam com o 25 de Novembro que a sua estratégia radical os afastou durante 40 anos do Poder e não irão repetir o erro.
Foi Pedro santana Lopes o primeiro a dizer, na passada terça-feira na SIC (no comentário semanal com António Vitorino) que esse “filme já acabou”, e a considerar que António Costa vai provavelmente negociar a sua permanência do Poder , fazendo-o com a mesma mestria com que lá chegou e com que construiu o seu governo. Santana Lopes anunciou também o “novo filme”: o PSD não pode votar contra leis que correspondem aos seus valores.
A fractura estava assumida e logo na quarta-feira, no Parlamento, já ninguém aceitava que Passos pudesse marcar o congresso para Abril, começando a circular a ideia de um congresso extraordinário que afaste de imediato Passos Coelho e prepare o Partido para uma estratégia nova em face da nova realidade política.
O tempo é outro e Passos Coelho poderá ser afastado da liderança do Partido, ainda antes das presidenciais.