O futuro de António Guterres poderá passar pela presidência da Gulbenkian, depois do ainda líder da Comissão da ONU para os Refugiados ter perdido a corrida para o Nobel da Paz, que o próprio chegou a anunciar como certa no grupo restrito dos seus familiares e amigos. O antigo primeiro-ministro contava com o prestígio do Nobel para entrar no circuito internacional de conferências, onde Durão Barroso, Bill Clinton e Tony Blair, entre outros, encontraram uma lucrativa actividade, depois de terem abandonado a política activa.
O lugar de recuo de António Guterres é agora a Fundação Calouste Gulbenkian, onde o seu antigo ministro das Finanças, Guilherme de Oliveira Martins, acaba de entrar como administrador executivo, em substituição do também seu antigo ministro (neste caso da Educação), Marçal Grilo. Guterres já é administrador não executivo e é apontado como o mais forte candidato à presidência da instituição.
A presidência da Gulbenkian está neste momento nas mãos de Artur Santos Silva, o chairman do BPI e próximo do PSD, que assumiu funções em 2011, em substituição do socialista Rui Vilar. Embora Santos Silva possa cumprir um segundo mandato, nos termos dos estatutos da Fundação, fontes internas garantiram ao CONFIDENCIAL que o actual presidente estará, por vontade própria, de saída.
Neste cenário, e respeitando a regra de alternância política desde que a presidência da Fundação passou a caber ao Presidente da República, o sucessor de Santos Silva deverá vir da área socialista.
Na administração executiva da Gulbenkian, um dos lugares de recuo político melhor remunerados do país, há um desequilíbrio entre membros próximos do PSD e do PS.
Além do presidente Artur Santos Silva (PSD), o Conselho executivo é composto por Isabel Mota (ex-secretária de Estado, ligada ao PSD) e Teresa Patrício Gouveia (ex-ministra, também ligada ao PSD), José Neves Adelino (professor de Economia que, no início do ano passado, substituiu Diogo Lucena, também ele da área social-democrata), Guilherme de Oliveira Martins (único PS) e Martin Essayan (neto de Calouste Gulbenkian). Entre os não-executivos estão o anterior presidente Rui Vilar, o conselheiro de Estado Gomes Canotilho, catedrático de Ciências Jurídico-Políticas, e António Guterres, todos eles socialistas.