Depois do PCP ter dado o acordo a um governo de esquerda sem condições (nomeadamente as questões da NATO, Euro e EU, que o afastam do PS), torna-se mais fácil o avanço do governo de coligação entre o PS e Bloco de Esquerda, liderado por António Costa.
Cientes desta situação, PSD e CDS-PP avançaram com uma coligação com incidência governamental, antes mesmo de iniciarem contactos com o Partido Socialista conforme solicitou Cavaco Silva no encontro com o primeiro-ministro em exercício, esta terça-feira. A pressão, do lado da direita, é fazer cair sobre o PS o ónus da inviabilização de um governo de centro direita, que daria continuidade à política de sustentabilidade orçamental do mandato anterior.
O sentido estratégico do acordo PS-BE
Na Europa o inimigo central continua a ser Moscovo. E é nesse alinhamento que devem ser vistos os movimentos com futuro, em Portugal e na Europa. O Partido Comunista e o Partido Socialista são partidos que tendencialmente tendem a desaparecer no novo ciclo europeu.
A vitória do Syriza e o acordo de estabilização dos gregos são sinais do futuro da esquerda europeia – no novo contexto estratégico e de segurança da Europa -, que em Portugal é protagonizada pelo Bloco de Esquerda e que, de algum modo, António Costa pode protagonizar, integrando-o numa coligação com o PS, que tende a ganhar um novo posicionamento político no espectro partidário nacional. O PS português e o BE podem ocupar esse espaço, que redefinirá toda a esquerda europeia.
Basicamente o que está em causa na Europa é a destruição da 3ª Internacional, depois do colapso da ex-URSS. E, portanto, o arrumar dos partidos políticos em Portugal obedecerá também a esta lógica. É aliás isso que explica que a tradicionalíssima Universidade de Coimbra tenha convidado o ex-ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, para ser o conferencista convidado na aula inaugural dos programas de doutoramento do seu Centro de Estudos Sociais (CES). Varoufakis estará na Universidade de Coimbra dia 17 de Outubro.
A aula dada pelo ex-ministro das Finanças sob o tema “Democratising the Eurozone” irá assinalar o início do ano lectivo dos 12 programas de doutoramento que o CES oferece, em parceria com várias unidades da Universidade de Coimbra e com outras universidades nacionais e internacionais.
Coligação de Centro direita na oposição
A possibilidade de formação de um governo que respeite as exigências do Presidente da República vai colocar na oposição Passos Coelho e Paulo Portas, o que pode levar a um rearranjo também à direita, nos próximos meses. Será um ano difícil e que coloca o próximo Presidente da República no centro da vida política nacional. Nesse contexto Antonio Costa foi o primeiro a deixar cair o tema das presidenciais na área socialista, dando liberdade de voto aos militantes na primeira volta, que funcionará assim como uma espécie de eleição primária entre ao candidatos da esquerda.
Fragmentação do PS
O socratismo, alguns seguristas, Alegre e até o grupo de Macau – todos meios do velho PS alinhados com a 3ª Internacional –, juntaram-se na candidatura de Maria de Belém, que poderá deixar de ter o apoio da Universidade Europeia (com ligações aos EUA).
Por isso, o avanço de Maria de Belém acaba por ser pouco credível, até porque não faz sequer o pleno do próprio partido socialista e junta todos os perdedores de um governo de esquerda dirigido pelo PS.
A possibilidade dos cerca de 15 deputados próximos de Seguro e Belém virem a criar um grupo parlamentar autónomo e viabilizarem o Programa de Governo e os Orçamentos de um Governo da Coligação, está em cima da mesa dado que discordam de um Governo à Esquerda. A fragmentação do PS em linha com o que aconteceu com os Partidos Socialistas da Europa, está portanto no horizonte, e a posição de Costa relativamente às presidenciais ajuda a reunir as tropas do velho PS.
Na área socialista, pode ainda aparecer o presidente do Tribunal de Contas, Oliveira Martins, que poderia fazer a ponte também à direita, dado que António Guterres, mesmo sem ter recebido o prémio Nobel da Paz, está numa situação invejável para ser o próximo Secretário-Geral das Nações Unidas.
Recorde-se que António Vitorino alinhado com os interesses chineses contra os EUA, está totalmente fora de hipótese e não pesa nos novos alinhamentos europeus.
A candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa
Mas o resultado das eleições legislativas deste fim-de-semana é sobretudo trágico para Marcelo Rebelo de Sousa. Tradicionalmente posicionado, como o pai, contra os EUA, Marcelo Rebelo de Sousa não conta com o apoio de Cavaco Silva, que não o quer na linha de sucessão. A possibilidade de Marcelo vir a recuar é um dado com que alguns meios contam já, mesmo depois do anúncio da sua candidatura ao fim da tarde de 9 de Outubro em Celorico da Beira.
Com Rui Rio sem possibilidade de ganhar umas presidenciais que são críticas para o Centro Direita, Pedro Passos Coelho terá dificuldades em encontrar um candidato que assegure esta difícil transição do sistema político português.