Barroso travará Marcelo e Rio

Apesar da carta publicada esta semana no “Jornal de Notícias”, Rui Rio pode não ter condições para avançar com uma candidatura presidencial, em face dos resultados das sondagens e para já sendo certo o avanço de Marcelo Rebelo de Sousa.

Jogando em dois tabuleiros ao mesmo tempo, o que está a enfurecer as hostes passistas, Rui Rio preferiria ser o sucessor de Passos Coelho no PSD, a ser candidato presidencial contra Marcelo Rebelo de Sousa, depois do anúncio de Pedro Santana Lopes de que não será candidato nas presidenciais de 2016.

Porém, em face dos resultados das legislativas, tudo pode estar ainda em aberto. Senão vejamos:

Em primeiro lugar, se a coligação ganhar as eleições, como parece provável, nada impedirá Passos Coelho e Paulo Portas de escolherem o seu candidato. E contra o partido nem Marcelo Rebelo de Sousa, nem Rui Rio, se deverão candidatar, ainda que ambos consigam financiar as suas campanhas. E o fantasma de José Manuel Durão Barroso ainda paira, sendo um nome possível e consensual na coligação. E no caso de Durão Barroso poder avançar com o apoio de Passos Coelho, quer Marcelo, quer Rio, deverão estar fora da corrida a Belém.

Porém, Durão Barroso já disse que não será candidato, embora o deteriorar da situação política, em face da provável falta de uma maioria absoluta, crie as condições necessárias para colocar em Belém um interlocutor válido para Bruxelas.

 

Presidente para um mandato?

Por outro lado, estando o campo da esquerda dividido em duas candidaturas, volta a fazer sentido a estratégia inicial de Marcelo Rebelo de Sousa de conseguir a unidade do centro e do centro-direita à volta de uma única candidatura presidencial, de modo a que a direita possa ganhar logo à primeira volta. E neste cenário, sendo Marcelo Rebelo de Sousa o mais bem posicionado nas sondagens e estando cada vez mais o passismo irritado com Rui Rio, mesmo que Passos Coelho dê liberdade de voto, como pede Marcelo Rebelo de Sousa, o mais certo é Rui Rio poder afastar-se e nem chegar a ser candidato.

De qualquer modo, com a saída de Pedro Santana Lopes da corrida, as presidenciais correm um risco de continuidade do sistema político, podendo levar posteriormente a consequências mais radicais no sistema de partidos.

À esquerda, Sampaio da Nóvoa representa o mais retrógrado do sistema (Eanes, Soares e Sampaio), Maria de Belém vai buscar Sócrates e os velhinhos católicos de esquerda do velhíssimo Rato, enquanto Marcelo Rebelo de Sousa dá guarida ao cavaquismo órfão, que sempre preferia ver no seu lugar Durão Barroso. Uma situação que permite facilmente adivinhar que o próximo presidente da República vai ter apenas um único mandato e que poderá ser muito parecido com os dias desgastantes de Marcelo Caetano no ocaso da ditadura do Estado Novo.

A história não se repete, mas pode ser muito parecida…