O desafio da desvalorização das divisas

As moedas dos países latino-americanos estão a passar por um 2015 complicado. O real brasileiro desvalorizou-se 33% este ano em relação ao dólar. O peso mexicano, por sua vez, caiu 19%; o peso colombiano, 35%; e o peso argentino, 10%. De acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), essas moedas ainda terão outros sustos pela frente. A directora-gerente da instituição, Christine Lagarde, previu no final de Julho “ainda mais volatilidade para as moedas da região”, especialmente se o Fed (Banco Central dos EUA) elevar as taxas de juros. Foi o que deixou transparecer numa entrevista colectiva online ao analisar a situação económica internacional.

A maior parte dos analistas ressalta que a subida das taxas de juros nos EUA, e o consequente fortalecimento do dólar, seria uma das principais causas da má sorte das moedas latino-americanas. A presidente do Fed, Janet Yellen, adiantou que a elevação do preço do dinheiro ocorrerá antes do final do ano. De modo geral, os economistas apostam que a elevação ocorrerá na reunião do Fed programada para Setembro.

O que está a acontecer no mundo é um reajuste dos níveis das taxas de câmbio depois do período mais longo de taxas negativas nos EUA. Ao mesmo tempo, chegou ao fim a política de quantitative easing [compra de títulos do Tesouro americano pelo Fed para injectar liquidez na economia]. A expectativa de aumento para breve das taxas de juros acelerou o processo de reajuste. Quando as taxas de juros dos EUA baixaram, na primeira década do século, os capitais procuraram rapidamente as economias emergentes e a Europa, tendo esse processo se acentuado em 2008. Agora, as taxas de câmbio estão a voltar ao ponto onde estavam anteriormente.

O Relatório Económico da América Latina e do Caribe de 2015, da Comissão Económica para a América Latina e Caribe da ONU (Cepal), apresentado no final do último mês de Julho, também chama a atenção para alguns acontecimentos importantes que explicam a queda das moedas da região, como “a menor disponibilidade de fundos nos mercados internacionais, o menor apetite por activos de países emergentes, a desaceleração do crescimento nos países da região e menores taxas de juros como consequência da flexibilização das condições monetárias”.

A desvalorização das moedas terá consequências directas sobre a situação económica dos países afectados, embora não se verifiquem efeitos negativos em todos os casos.

Os investimentos directos nos países vão diminuir e, de facto, já são menores, seja porque se destinam, em grande parte, ao sector primário, e como os preços das matérias-primas baixaram significativamente, não é mais rentável investir, por exemplo, em novas minas de cobre, ou novos poços de petróleo. Os países que poderão ser mais afectados são os de base exportadora mais primária, como o Chile, Peru, Bolívia, Equador e Venezuela.

Contudo, a desvalorização das moedas na América do Sul poderá também ser favorável, como espera a China com a sua desvalorização desta semana, para as exportações de bens industriais e serviços, e para as bolsas de valores e mercados de bens primários, os quais deixariam de estar empolados.