Cabo Verde troca Lisboa por Luanda

A nova estratégia diplomática de Cabo Verde passa pelo reforço da cooperação com Angola e China, para aligeirar a enorme dependência do arquipélago em relação a Portugal ou Itália, sobretudo no que respeita a investimentos no sector do turismo. A crise da economia europeia travou o investimento local destes dois países, levando Cabo Verde a procurar alternativas. Luanda e Pequim tenderão a ocupar os lugares preferenciais até agora reservados a Lisboa e Roma.

Em Junho, Praia e Luanda assinaram um memorando de entendimento para expandir a cooperação e investimento bilateral. Desde 2008 que Cabo Verde tem estado na mira do investimento, numa vaga que tem tido como principal protagonista a empresária angolana Isabel dos Santos, sobretudo nas áreas da energia, telecomunicações e banca. O acordo agora assinado prevê a expansão das parcerias a outros sectores prioritários, incluindo o turismo, as pescas e o transporte aéreo e marítimo.

Em Março foi inaugurado no Mindelo um terminal petrolífero para reabastecimento de combustível a navios, num investimento da Enacol (participada pela angolana Sonangol e pela Galp Energia), avaliado em 1,9 milhões de dólares. Na área dos transportes, a companhia aérea angolana TAAG tem sido referida como interessada em tomar uma posição na homóloga cabo-verdiana TACV, que o Governo pretende privatizar.

A privatização da TACV interessa também aos chineses da Okay Airways, enquanto a China Road & Bridge Corporation (CRBC) manifestou interesse em construir um porto de águas profundas e um terminal de cruzeiros na ilha de São Vicente, além de recuperar os estaleiros da Cabnave.

Em 2014, o ex-primeiro-ministro Gualberto do Rosário apresentou publicamente um plano que tem como objectivo tornar Cabo Verde, até 2023, num “Tigre do Atlântico”, por analogia com os “Tigres Asiáticos”, passando pela construção de três grandes refinarias e a instalação de grandes bancos norte-americanos e europeus.

Segundo relata o boletim noticioso Africa Monitor, o plano passava pela captação de investimento externo para sectores novos como indústrias química, electrónica e alimentar, levando ao aumento do tráfego nos portos, de passageiros e de mercadorias.

Os objectivos alargam-se ainda aos vizinhos da África Ocidental, com quem Cabo Verde pretende desenvolver relações comerciais mais fortes e potenciar o papel de plataforma logística e portuária da região.

Em 2014, foi inaugurada a maior infra-estrutura desportiva do arquipélago, o Estádio Nacional, também na ilha de Santiago, financiado pela China.

De Macau virá o maior investimento estrangeiro de sempre, avaliado em 273 milhões de dólares, promovido pelo empresário David Chow, um valor equivalente a 15% do PIB de Cabo Verde.

O projecto inclui, além de um hotel-casino de luxo, um centro de convenções, uma marina, uma estância termal e a requalificação de toda a orla marítima da Gamboa. Este gigantesco complexo turístico será construído no ilhéu de Santa Maria, situado em frente da capital, Cidade da Praia, numa área superior a 15 hectares. Cabo Verde concedeu à Macau Legend Development uma concessão de jogo por 25 anos para a ilha de Santiago, dos quais 15 em exclusivo. No que se refere ao jogo, David Chow disse que pretende instalar entre 30 a 40 mesas de jogo e slot machines destinadas ao turismo de massas.

O CONFIDENCIAL sabe também que existem vários acordos de cooperação com a China nas áreas do turismo, jurídica e dos registos notariais, e na formação de quadros, mas o projecto de David Chow para o ilhéu de Santa Maria será o primeiro investimento de grande envergadura a avançar em Cabo Verde.