A partir de meados de Julho – logo depois de definidas as listas para as legislativas – arranca, dentro do PSD e na coligação, o debate sobre o candidato presidencial. E parece claro que, a haver algum, uma imposição de última hora, a partir de Washington ou de Bruxelas – entenda-se José Manuel Durão Barroso –, seria um erro, como aqueles que se cometeram na Grécia – por muita relevância que o antigo presidente da Comissão Europeia ainda possa e deva vir a ter no novo ciclo.
Dos restantes três nomes que as sondagens vêm falando, Rui Rio não soube descolar da barreira regional do Norte, e Marcelo Rebelo de Sousa, que sempre protagonizaria uma evolução, seria sempre prisioneiro do Portugal Velho, como aconteceu a Marcelo Caetano, que, depois de tanta esperança, apenas prolongou a agonia do Estado Novo. E, ao contrário do que aconteceu com a transição espanhola, acabou por provocar uma Revolução, com o seu Vasco Gonçalves, que decapitou as elites (que tiveram de emigrar) e, sobretudo, empobreceu o País – em mais de 20% com nacionalizações, desemprego e inflação –, obrigando a dois acordos com o Fundo Monetário Internacional (1978 e 1983).
A opção dos partidos do centro-direita não será entre a esquerda e a direita, mas entre prolongar o sistema tal como ele está e, com isso, provocar o desastre marcelista e ter mais adiante alguma fórmula modernizada de um Vasco Gonçalves (um Syriza!), por um lado, ou uma transição, como aquela que protagonizou o rei de Espanha – com Adolfo Suarez a seu lado – mesmo sabendo nós, agora, que o rei de Espanha teve que abdicar quarenta anos depois, por causa de uma caçada em África ao lado da belíssima Corina!
Pedro Santana Lopes, actual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e ex-primeiro-ministro, tem condições para ser o protagonista da nossa transição. A sua experiência, ao longo de uma carreira única, assim o demonstra. Vê-se isso, semanalmente, nos debates com António Vitorino. Vê-se isso no conhecimento que revela na área da cultura, ou na experiência enquanto presidente de dois concelhos, que agora robustecem o seu trabalho na SCM. E, finalmente, vê-se isso na enorme experiência política, também internacional, que adquiriu nos diferentes cargos governativos.
Por outro lado, ao contrário de outros, Pedro Santana Lopes já trabalhou de perto com todos os futuros intervenientes governativos: como autarca e provedor, com António Costa, como provedor, com Passos Coelho, como primeiro-ministro e presidente do PSD, com Rui Rio, e ainda teve Paulo Portas como seu ministro. Estabelece pontes e tem capacidade de diálogo e trabalho com todos os actuais e futuros intervenientes.
Uma transição que mude o sistema clientelar instalado em definitivo, mas que garanta as liberdades e os direitos fundamentais, e que, sobretudo, olhe para as pessoas, com a centralidade radical do combate à pobreza e da afirmação da discriminação positiva em todas as políticas públicas.
Não é possível adiar mais essa transição. Teria um custo enorme.
O País tem que mudar, mas não precisa de golpes – mais ou menos assumidos, mais ou menos palacianos –, que levem a roturas traumáticas e que obriguem as elites a fugir do justicialismo de tribunais sem dono, ou ao empobrecimento do País pela generosidade ingénua do populismo nacionalista.
E parece evidente que quanto mais demorar esta transição – pacífica, negociada, ordeira, equilibrada, mas determinada e definitiva –, quanto mais tempo demorar a esperança de um Portugal Novo, mais violenta será a fractura, maiores externalidades económicas e sociais terá a mudança do ciclo político nacional.