PS agita-se com Presidenciais à esquerda
Maria de Belém ainda é hipótese
Maria de Belém Roseira pode avançar com a sua candidatura presidencial ainda antes das eleições legislativas, mas o apoio do PS a um candidato só aparecerá depois Outubro. António Costa capitalizaria com a corrida à esquerda de Sampaio da Nóvoa e, no centro esquerda, de Maria de Belém.
Manuel Alegre deu esta semana sinal do desconforto de áreas do PS com a candidatura presidencial de Sampaio da Nóvoa. O académico, antes próximo do Partido Comunista, sem passado conhecido e inventado no “laboratório do Sistema”, conta já com os apoios dos ex-presidentes da República Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio, e serve a António Costa para abrir o PS à esquerda e moderar os ímpetos da extrema-esquerda, evitando a repetição do desastre espanhol e grego.
Mas do lado de Manuel Alegre, sem abrir o jogo, o melhor nome continua a ser o de Maria de Belém Roseira, antiga ministra da Saúde de António Guterres e ex-presidente do Partido Socialista.
Maria de Belém Roseira, hoje ligada à União das Misericórdias Portuguesas, não descarta a hipótese de uma candidatura presidencial, aparecendo publicamente em atividade politicas e sociais, ao lado de potenciais candidatos do centro-direita ou com militantes do PS. Além do apoio de Manuel Alegre, a ex-ministra da Saúde poderia fazer a unanimidade da área socrática e será sempre muito mais próxima do sector segurista, que Sampaio da Nóvoa.
A possibilidade de Maria de Belém Roseira avançar abre a porta a vários candidatos à esquerda e pode mesmo levar o PS a preferir o apoio a esta sua militante, que entra bem no centro-direita e na área católica. Porém, esse apoio a uma candidatura presidencial por parte do PS dificilmente virá antes das legislativas. António Costa preferirá sempre manter todas as possibilidades em aberto, beneficiando assim do apoio nas legislativas da ala mais esquerdista e da ala mais socrática do PS, só definindo a posição em Outubro. Esta estratégia pode obrigar Maria de Belém Roseira, a repetir a receita de Sampaio da Nóvoa e a ter que avançar sozinha, eventualmente reavivando a experiente estrutura da anterior candidatura presidencial de Manuel Alegre, que sozinho protagonizou um resultado histórico nas presidenciais, contra Cavaco Silva. A enorme experiência de Manuel Alegre que, como Carvalho da Silva, dificilmente apoiará Sampaio da Nóvoa, pode ser crítica para um bom arranque de Maria de Belém.
Além das presidencias, a agitação à volta de Maria de Belém tem um segundo efeito no PS. Prepara a solução alternativa a António Costa dentro do PS, caso este perca as eleições gerais de Outubro, um cenário cada vez mais admissível, dado o crescimento económico – que deverá acelerar este trimestre, com a reposição de stocks nas empresas e o aumento do consumo interno, a par da subida das exportações e do crédito.
O facto de António Costa, mesmo com o apoio da máquina socrática, não estar a avançar nas sondagens – e do seu discurso pouco assertivo e das propostas muito tecnocratas não mobilizar apoios -, contra um primeiro-ministro desgastado pelo rigor da austeridade imposta pela troika, está a deixar apreensivas as hostes socialistas, que preferem mesmo a cacofonia das primárias para a formação das listas para as legislativas ou para o apoio nas presidenciais, do que continuar a assistir à destruição do que consideram uma oportunidade perdida.
Nesse registo, uma candidatura presidencial de Maria de Belém Roseira, ainda que não desse a Presidência à esquerda, poderia galvanizar o PS, e permitiria novas soluções dentro do próprio PS, na sucessão de António Costa.