A proposta de Miguel Pais do Amaral pelos 61% do capital da TAP que vão ser privatizados prevê o pagamento de 325 milhões de euros em cash e num único pagamento à cabeça, batendo do ponto de vista financeiro as propostas concorrentes apresentadas por David Neeleman e por German Efromovich.
O empresário português conta com o apoio de três grandes fundos norte-americanos, com activos sob gestão acima dos 50 mil milhões de dólares, e com a assessoria financeira do JP Morgan. Embora não tenham sido confirmando os nomes dos fundos, o Confidencial sabe que os fundos americanos Apollo Managment, Cerberus e Greybull, assinaram ao cordo de confidencialidade para acesso aos dados que constam do dossier de privatização, o que faz alimentar os rumores de que poderão ser estes os três parceiros de Pais do Amaral.
Frank Lorenzo, o hispano-americano que liderou a Continenal Airlines e que chegou a ser adiantado como principal parceiro de Miguel Pais do Amaral na corrida à TAP, na privatização falhada de há um ano, mantém-se como consultor do projecto, embora com uma posição marginal. Lorenzo sempre defendeu que a TAP seria mais interessante se privatizada a 100% e daí ter reduzido a sua posição como accionista.
A proposta do consórcio Sinergy, liderado pelo colombiano German Efromovch, dono da companhia colombo-brasileira Avianca,, propõe uma injecção de 250 milhões de euros na transportadora portuguesa, dos quais entre 150 a 180 milhões em cash, e o restante realizado através da cedência à TAP de 12 avisões que a Avianca tem disponíveis: seis Airbus A330 para voos de longo curso e seis A320 de médio curso. Os aviões, já foram encomendados serão entregues à Avianca antes do Verão, podendo começar a operar com a TAP até ao final do ano. O consórcio propõe ainda que o quase inactivo aeroporto de Beja passe a funcionar como centro logístico de carga do grupo, em articulação directa com o porto de Sines, transformando-a na sua plataforma de distribuição de mercadorias, de e para a Europa. Se ganhar, Efromovich promete repartir entre 10% e 20% dos dividendos da TAP pelos trabalhadores. Mas, para isso, é necessário que a TAP regresse ao lucros
A proposta de David Neeleman, fundador e antigo dono da companhia americana Jetblue e actual líder da transportadora brasileira Azul, integra ainda o grupo português Barraqueiro, de Humberto Pedrosa e vários fundos e veículos de investimento brasileiros. Avança com um valor total de 350 milhões de euros em cash para a compra de 53 aviões. A renovação e o alargamento da frota permitirão reforçar as ligações entre Portugal, o Brasil e os EUA, que Neeleman quer posicionar como mercado estratégico para a ATP, sobretudo nas rotas para cidades onde a emigração portuguesa é muito forte, como Boston ou Newark. Neeleman reserva para os trabalhadores 10% dos dividendos.
O facto de David Neleman não ter passaporte europeu limitará a sua participação a 49% da TAP, por virtude das limitações impostas pela União Europeia, ficando os restantes 12% nas mãos do parceiro português.
O primeiro-ministro já confirmou que o encaixe financeiro não será a primeira opção na escolha de um comprador para a TAP, dando prioridade à proposta que apresentar a melhor solução de reestruturação financeira e de viabilidade futura da companhia. Na sequência do efeito mediático provocado pela última greve dos pilotos, que o Governo, com a competente ajuda da agência de comunicação de António Cunha Vaz, capitalizou a seu favor, Passos Coelho quer apresentar-se agora como o salvador da transportadora e evitar a bancarrota.
Neste cenário, o principal aspecto a considerar será a capitalização da empresa, até porque o Estado, devido às contingências das autoridades europeias de concorrência, está impedido de fazer qualquer injecção de capital na empresa. O Confidencial sabe que os capitais próprios da TAP são neste momento negativos num valor superior a 500 milhões de euros, o que coloca a empresa em situação de falência técnica. No Fundo de Pensões há um buraco adicional de 200 milhões.
A venda da TAP está entretanto dependente da aceitação, pelos bancos, de que os seus créditos sobre a TAP sejam transferidos para os novos donos. Os principais bancos credores são o Deutsche Bank, BCP, CGD e o angolano BIC.
O passivo, que segundos os documentos apresentados aos candidatos é de 1047 milhões de euros, deverá ser na realidade superior em cerca de 400 milhões. Cerca de metade deste valor é dívida bancária, sendo o restante dívidas a fornecedores e financiamentos em leasing de aviões. O problema é a dívida de curto prazo, que ascende a mais de 500 milhões de euros, o que poderá sufocar qualquer plano de restruturação e relançamento da TAP
O Governo pediu ao presidente da companhia, o brasileiro Fernando Pinto, para reestruturar a dívida e renegociar os prazos de amortização, ainda antes da privatização, fazendo o rollover de uma parte importante dos débitos para prazos superiores a um ano. A transferência da dívida de uma companhia estatal para os novos donos privados fará aumentar o risco, estando neste momento a ser discutida a formatação jurídica para fechar a operação e aumentar os prazos de pagamento, sendo certo que estará excluída à partida a hipótese de uma garantia do Estado.
Guerra de lobbies
David Neeleman está a ser assessorado pelo Barclays Bank e pela sociedade de advogados Cuatrecasas Gonçalves Pereira. Na comunicação está Abílio Martins, o ex-homem forte da comunicação da Portugal Telecom, e antigo quadro da agência de comunicação JLM, de João Líbano Monteiro, que assim regressa ao activo.
German Efromovich está a ser apoiado pela Caixa Banco de Investimento, pela consultora 3angle capital e pela Abreu Advogados. Na comunicação está a agência de Paulo Fidalgo, o ex-director de comunicação e marketing do Millennkum bcp, onde chegou pelas mãos de António Cunha Vaz, dono a CVA, uma das maiores agências de comunicação do país, e ele próprio um antigo director de comunicação do BCP.
Miguel Pais do Amaral conta com o JP Morgan e com a agência de comunicação Lift, de Salvador da Cunha