Passos Coelho já está a preparar uma estratégia para o cenário de uma derrota eleitoral nas próximas eleições legislativas: o primeiro-ministro pretende ficar na liderança do PSD, mesmo que venha a perder as próximas legislativas, acreditando que, como Churchill, poderá regressar depois ao poder, com o discurso da austeridade. Basta manter a coerência do discurso, porque o Partido Socialista fará o resto.
Do lado do PSD reconhece-se que o problema não será o programa eleitoral, nem mesmo a estratégia proposta pelos doze economistas afectos ao PS, que se enquadra perfeitamente no quadro restritivo do Pacto Orçamental e que foi construído com base no modelo macroeconómico da Comissão Europeia.
O problema é a cultura instalada no PS, de que António Costa é herdeiro, e que teve em José Sócrates e Fernando Teixeira dos Santos os grandes expoentes durante dois mandatos.
O programa dos economistas socialistas, ao insistir na componente interna da retoma, nomeadamente através de um vasto programa público de reabilitação urbana, está a criar condições para o emprego de 120 mil desempregados da construção civil, que não terão emprego nas atividades exportadoras, sejam industriais, sejam no turismo ou na restauração. Uma falha na política da coligação governamental e do Programa de Estabilidade e Crescimento, apresentado em Abril a Bruxelas, mas que pode ser a deriva do PS no governo.
Para o primeiro-ministro e para a coligação, para já, está fora de causa um governo do bloco central. Quando muito, se a coligação não ganhar – o que atualmente não é impossível para o PSD, como a dinâmica das sondagens parece indicar – o PSD poderá suportar o Orçamento de Estado para 2016 de um governo minoritário do PS, adiando eventualmente a crise política para depois da tomada de posse do novo Presidente da República, quando esse retomar os poderes de dissolução da Assembleia da República, entre Julho e Agosto de 2016. Ou seja, neste cenário, para o primeiro ministro as próximas eleições legislativas ainda são parte do ciclo que está a terminar e o novo ciclo político pós-austeridade, no qual Passos Coelho e a coligação querem ter uma palavra a dizer, iniciar-se-á apenas com a eleição do Presidente da República e a eventual crise política do Verão de 2016.
É aliás, neste sentido que os dois partidos da coligação pré-eleitoral de centro-direita pactuaram, já que nenhum deles integraria um governo de coligação com o PS depois das legislativas, mas viabilizaria, nesse cenário, um governo minoritário, que dificilmente terá o apoio dos mercados, alegadamente recuperado pela coligação governamental. Com este discurso ideológico o controlo apertado de algumas distritais, o primeiro-ministro considera que dificilmente o conseguirão tirar da liderança do PSD, seja qual for o resultado nas eleições legislativas.
Do lado do CDS/PP, as coisas podem ser mais dinâmicas. Paulo Portas preferirá sempre estar no governo, com António Costa ou com Pedro Passos Coelho, e esse cenário será sempre melhor que uma candidatura presidencial sua ou o abandono da liderança do CDS/PP. Continuar na oposição parece não fazer sentido, sobretudo depois do que aconteceu a José Sócrates e o receio de algumas investigações da Justiça poderem vir a ser conhecidas.
Diante desse cenário, e em face dos apelos do Presidente da República e de eventuais pressões de Bruxelas, o PSD, pressionado pelos seus quadros, poderá ainda equacionar uma coligação com o PS, com ou sem o CDS/PP. E, neste caso, muito provavelmente, o atual primeiro-ministro não estaria no Governo e esperaria pelo Verão de 2016 para eventualmente provocar uma crise. Mas este cenário seria o pior para Passos Coelho, pois comprometê-lo-ia com a política de um governo de coligação que dificilmente poderia não ir até ao fim da legislatura.